terça-feira, 29 de julho de 2008

O PEQUENO SISMO

Há um pequeno sismo em qualquer parte

ao dizeres o meu nome.

Elevas-me à altura da tua boca

lentamente

para não me desfolhares.

Tremo como se tivera

quinze anos e toda a terra

fosse leve.

Ó indizível primavera!


De Eugénio de Andrade

quinta-feira, 24 de julho de 2008

FORA DO RITMO

Hoje lembro-me de ti tal como eras há 25 anos: cabelos loiros, olhos claros, sorriso terno, olhar travesso... esta é a imagem que permanece intacta na minha memória e não a substituo por nenhum dos instantâneos que a minha retina captou nos últimos anos. A razão é apenas uma: só naqueles três anos viveste em mim, hoje vives a tua vida e eu a minha.
Descobri-te ao mesmo tempo que aprendi que quando faz calor também podemos sentir arrepios, que o Sol brilha mesmo em dias de chuva e que o coração não bate sempre do mesmo modo. Naqueles dias não tinham significado palavras como talvez, futuro, impossível... A saudade, mesmo quando fazia doer, era doce e a vida era bela só por saber que estavas lá... no meu coração. Foste-te embora: não me magoaste nem me decepcionaste, não tinhas promessas para cumprir... simplesmente deixamos de partilhar a mesma escola. Sim, naquela altura éramos crianças.
Hoje existe uma razão para te recordar: o meu coração voltou a bater fora do ritmo!

domingo, 20 de julho de 2008

DOR (IN)CONTIDA


A maior dor
é a que sinto ao ver
a lágrima sentida
sofrida
a custo contida
em teus olhos
Mesmo que fizesse
o vento soprar
o Sol brilhar
a Terra girar
não poderia dissipar
a tua dor... Filho
E no silêncio da noite
soltam-se dos meus olhos
as lágrimas que não deixaste cair.
Este corpo pequenino e franzino alberga um grande homem.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A NOSSA VIAGEM

Naquela manhã, bem cedo, desceu à praia.
O Sol dava início a um novo dia descobrindo os seus primeiros raios. A praia era só dela... inspirou fundo para sentir o cheiro do dia que despontava lavado em maresia. Passeou na faixa de areia onde as ondas da noite anterior tinham repousado, mas onde agora já não conseguiam tocar. Não havia nuvens no céu e via claramente a linha do horizonte ... nascia um dia puro, impregnado de sonho e esperança. Chegou ao extremo da praia onde as rochas mergulhavam na água e sentou-se olhando o seu mar e apreciando a sua companhia. Fechou os olhos, sentia o calor ténue do Sol, uma brisa suave e o murmúrio das ondas que chegavam de mansinho à praia... e sentia aquele calor agradável nos seus ombros. Sem surpresa viu-o ali ao seu lado, sorrindo-lhe. Devolveu-lhe o sorriso... Sentira desde sempre a presença dele, na sucessão ininterrupta dos dias, do nascer ao pôr-do-Sol e do anoitecer até à aurora. Sim, sabia que ele sempre estivera com ela.
Olhou a praia ainda deserta. Na areia ao lado das suas pégadas estavam outras maiores: as dele.

terça-feira, 15 de julho de 2008

DUAS?

Era Verão e escurecia, estava quente e abafado. As nuvens forravam o céu de cinzento escuro, quase negro: ameaçavam chuva. Prescindiram do passeio à beira-mar. No centro comercial escolheram um filme: nada de histórias tristes ... uma história de amor de final feliz, como sonhavam a sua.
Terminado o filme, pararam na casa de chá, como era seu costume.
Enquanto preparava a bebida lembrava-se do livro que lera há já alguns anos "Chá e amor"... bebeu o líquido em pequenos golos, saboreava-o lentamente, enquanto se recordava da cerimónia de chá tão bem descrita no livro.
- Vai querer mais?
À sua frente apenas se encontrava o empregado que os atendera. Olhou em volta. Ela era a última cliente.
- Não, obrigada. Já estou de saída.- respondeu.
Ao levantar-se olhou surpresa as duas chávenas de chá que estavam na mesa. Teimosamente silenciosas não respondiam à pergunta que ela apenas era capaz de formular em pensamento.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

NÓS?

Entreabriu preguiçosamente os olhos ... os raios de Sol entravam pela janela, suavemente filtrados pelos pesados cortinados.
Os pássaros com seu cântico, a terra orvalhada eo seu cheiro a vida anunciavam o começo de um novo dia.
Sentia o agradável calor do corpo dele, deitado ali, a seu lado. Ainda dormia... enroscou o seu corpo ao dele, com cuidado para não o acordar. Fechou os olhos. O ritmo da respiração dele embalou-a ... adormeceu docemente.
Abriu os olhos! Não se ouviam pássaros, só os carros apressados lá em baixo no asfalto. Estava deitada, sózinha naquela cama imensa.

O QUE ACONTECEU A ESTE BICHO?


Aqui estou de volta, após trocas de modem, alterações no hardware, formatações, várias chamadas telefónicas e, por fim... recurso aos médicos destes "bichos" complicados.