segunda-feira, 27 de abril de 2009

ESTILHAÇOS


Começa por ser uma manhã que tarda
A espera de que se foge
Gota que cai leve no rosto
Só depois o céu fica cinzento
E desaba em estilhaços
No chão

sexta-feira, 24 de abril de 2009

CONSTRUTOR

Comemorou o seu 71º aniversário no mês passado. O seu nome não é relevante, não aparece em revistas ou jornais. Não publicou livros, não é actor nem músico, não realizou nenhuma obra que o celebrizasse... daqui a algumas gerações o seu nome terá sido esquecido. O seu nome não ficará escrito nos livros de história, mas ficará indelevelmente guardado no meu coração. Conheci-o recentemente e aproximei-me dele acerca de dois anos. Não sei muito do seu passado, apenas o que ele conta quando vem a propósito. Nasceu numa família humilde, foi para o seminário cedo, durante a guerra colonial foi capelão militar algures em África. Terminada a guerra voltou à sua terra natal, mas o bispo colocou-o numa terra distante da dos seus pais, gravemente doentes e a precisar do seu auxílio. Talvez tenha sido esta a gota de àgua que o fez deixar o sacerdócio, os verdadeiros motivos desconheço. Tirou o curso de psicologia. Casou-se e teve uma filha que nasceu com uma deficiência profunda. Durante 17 anos, ele e a esposa, deram de comer à menina, puseram-lhe e tiraram-lhe as fraldas, lavaram-na, vestiram-na e pentearam-na, levaram-na a passear, cantaram-lhe e contaram-lhe histórias, beijaram-na e abraçaram-na...era a sua menina. A sua filha faleceu e mais tarde vítima de doença, que sei ter sido prolongada, também faleceu a mãe. O tempo passou, não sei quantos anos ao certo, voltou a encontrar o amor e casou-se à cerca de doze anos. É uma pessoa que admiro, nunca o ouvi lamentar-se da sua vida ou das dificuldades por que passou, tão pouco proferir alguma palavra amarga sobre o seu passado. Está sempre disponível para quem o procura, ouve como ninguém e acima de tudo não julga as pessoas. Tem um coração grande, sempre pronto a ajudar quem ele sabe que precisa. Adora a sua "quinta" que mantém impecável com a ajuda de um jardineiro e no final do ano passado encontrou um novo "hobbie", aprendeu a pintar estatuetas que pelo Natal ofereceu à família e amigos: anjos, Meninos Jesus e Sagradas Famílias ... Guardo o anjo que me ofereceu no meu quarto, bem perto de mim. À esposa ofereceu recentemente um humorístico casal de namorados. Nunca o ouvi lamuriar-se dos seus 71 anos e tem sempre um novo projecto a ser posto em prática. Tenho a certeza que muitas vezes duvidou do seu Deus, no qual continua a acreditar, que chorou com as dificuldades que lhe surgiram, talvez tenha perdido momentaneamente a esperança, se calhar nem sempre foi feliz...hoje basta olhar para os seus olhos para saber que é. Vejo-o como um construtor...um construtor da sua vida.

sábado, 11 de abril de 2009

PRÉMIOS

Até há ano e meio não fazia idéia do que era um blogue. Algures em Outubro/ Novembro de 2007 estive uma semana em casa doente. Um dia na Antena 1 "apanhei" o programa "Estes difíceis amores" do prof. Júlio Machado Vaz, de que muito gostei. Sem muito com que me pudesse entreter e precisando de descançar o cérebro da "montanha russa" em que os últimos acontecimentos (in)esperados tinham lançado a minha vida, lembrei-me de uma frase que ouvira : "Tudo o que é gente importante tem um blogue". Pesquisei no google e descobri o blogue que procurava : o Murcon (blogue do referido professor), do qual passei a ser leitora assídua. Nesta altura criei o meu blogue única e exclusivamente para poder lá comentar. Fui descobrindo novos espaços e este "mundo" novo exerceu sobre mim um enorme fascínio, no entanto, não me passava pela cabeça ter um espaço meu onde pudesse escrever. Foi no final de Dezembro de 2007 que criei este espaço com o intuito de desabafar a angústia que me atingia o coração, é que naquela altura a "montanha russa" estava completamente desgovernada e o "despiste" era a única hipótese que se adivinhava, não obstante o esforço que fazia para manter-me "em linha" por mais tempo, tentando dar a volta à situação. Os primeiros posts que publico são unicamente trancrições de textos onde encontrava alguma força para manter um equilíbrio precário.
Quando começo a escrever no meu blogue começam a surgir os primeiros comentários dos blogues que na altura "visitava". Cedo apareceram os primeiros prémios, que, embora agradecida, não consegui aceitar por não achar merecê-los. Tenho uma "vizinha" que, ao longo deste ano, me foi brindando com alguns prémios e embora eu apenas agradecesse não dessitiu de o fazer. A sua persistência e os últimos prémios que me atribuiu fizeram-me repensar a minha posição em relação aos prémios: como poderia não aceitar estes gestos de carinho?
Esta pessoa maravilhosa é a Blue Velvet a quem agradeço o carinho.
Assim aqui vão os últimos prémios que esta "vizinha" me atribuiu:







Estes quatro prémios vão para:

Fa

Maria

Sani

Vento

Violeta

terça-feira, 7 de abril de 2009

INSTANTÂNEOS



Uma criança a correr atrás das ondas, adolescentes a jogar volei numa roda,um casal de namorados a comer gelado no carro junto à praia, uma mãe que brinca com o filho correndo atrás da bola azul... A minha retina capta estes instantâneos: fotos em movimento de um tempo que já passou.

Saudades? Sim, mas daquelas que já não fazem doer. São recordações que me fazem sentir grata pelos momentos bons que já vivi e aconchegam o meu coração. Dão-me também a certeza que as páginas em branco do meu álbum serão preenchidas com muitas outras fotos. Algumas destas foram capturadas recentemente, não estão coleccionadas por ainda as segurar nas mãos estupefacta com a sua beleza...

Ao longe surgem os primeiros acordes de "As praias desertas" de Tom Jobim, sigo a música trauteando baixinho:


As praias desertas continuam

Esperando por nós dois

A esse encontro eu não devo faltar

O mar que brinca na areia

Está sempre a chamar

Agora eu sei que não posso faltar

O vento que venta lá fora

O mato onde não vai ninguém

Tudo me diz: não podes mais fingir

Porque tudo na vida há de ser sempre assim

Se eu gosto de você

E você gosta de mim

As praias desertas continuam

Esperando por nós dois



Contradição? Talvez, pois se há coisa que aprendi é que na vida nem tudo é racional e congruente. Ou talvez seja apenas o desejo de que um dia nos encontremos numa destas praias que nos esperam pacientemente.