terça-feira, 26 de maio de 2009

CASTELO DE CRISTAL

"Quando subo pela haste da manhã, encontro uma cidade de cristal. Trouxeste-ma tu (...)
E se conseguisse tocar-te com a respiração, ouvia-te dizer:
- É na desolação dos dias que o meu olhar segrega o mel com que te alimentas."
Al Berto - Dispersos


Há um momento em que nos apercebemos que é tarde. Tarde demais para evitar que o mundo que habitamos se parta em mil contas descoloridas. É no instante em que se descobre que as coisas em que acreditávamos eram efémeras e breves.
Chegaste naqueles dias em que era consumida pela aridez de um deserto do qual não avistava o fim. Nada fazia prever a tua fantástica vinda.
Chegaste. Seguraste-me a mão e seguiste ao meu lado. Derramavas cores naquele deserto que me invadira. Ou seriam palavras? Falavas de coisas estranhas. Sonho. Desejo. Paixão...
No espaço onde as nossas palavras se encontram, onde mergulho no teu olhar surge um castelo de cristal onde tudo faz sentido.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

VIVER DE IMPROVISO

Durante muito tempo, demasiado, vivi como se estivesse a seguir um guião que estudara ao pormenor. Conhecia o início da história e como se desenrolaria até ao final feliz! Naqueles dias não me apercebia que me encontrava espartilhada por um argumento. Estava demasiado ocupada em desempenhar o meu "papel". Foram dias recheados de certezas e de sonhos feitos realidade. Claro que havia rotinas e problemas, enredos e contratempos... mas todas as histórias, mesmo as de final feliz são assim. Até ao dia em que fiquei sem saber qual a minha fala e não havia ninguém que ma segredasse... A vida já não seguia a história que lhe haviam escrito. Senti o chão a escapar-me vertiginosamente e as imagens a rodopiarem à minha volta numa sucessão desconexa. Sem compreender o que se passava senti-me desfalecer. Cambaleei insegura e sem as frases certas apenas emitia uma sequência desordenada de palavras... Mesmo sem guião sabia que tinha de continuar, porque do palco da vida não se pode fugir. Após tanto tempo a viver uma vida programada era-me difícil voltar a improvisar. Mas tive de o fazer, de início contrafeita e indignada com a mudança ocorrida, mas depois aprendi a apreciar a espontaneidade das frases e das surpresas que elas proporcionam. Hoje, permito-me palmilhar caminhos que não sonhara e saboreio as descobertas que vou fazendo. Olho sem ansiedade para as folhas brancas que seguro nas mãos.

sábado, 9 de maio de 2009

BLEU





"Azul" é um dos filmes da trilogia "Três cores" do realizador Krzysztof Kieslowski, inspirado nas cores da bandeira de França e nos princípios da Revolução Francesa: liberdade (Azul), igualdade (Branco) e fraternidade (Vermelho). Vi-o na televisão há já alguns anos e gostei. Revi-o há algumas semanas com um olhar diferente...

Julie (Juliette Binoche) perde o marido e a filha de três anos num acidente de viação. Inicia uma vida nova longe de tudo e de todos os que até aí faziam parte da sua vida. Do passado apenas traz um candeeiro azul que retira do quarto da sua filha. Mas o passado intromete-se no presente e provoca mais uma perda: a da imagem que tinha do "antes". Com coragem enfrenta os "fantasmas" do passado e pacifica-se com eles. Sempre presente está a força do amor, visível na bondade de Julie e na presença do antigo assistente do marido, cujo comportamento provoca uma mudança decisiva na atitude de Julie. Graças ao amor, Julie aceita o passado, ultrapassa a dor e a solidão e desperta de novo para a vida.