domingo, 28 de junho de 2009

EM JEITO DE BALANÇO


Balanços?Nesta altura do ano? Pois, para mim agora é que fazem sentido. A minha vida é organizada em anos lectivos e de tal forma o sinto que, quando me refiro ao "ano passado", invariavelmente estou a referir-me a "ano lectivo passado. De Setembro a Junho, os meus dias são organizados em função de um determinado horário de trabalho, em que lido com grupos de pessoas, muitas delas diferentes das do ano anterior, em que me proponho e em que me são propostos objectivos diferentes. Além disso, é também por estes dias, em que todos os anos completo mais um ano inteiro de vida. Por isso, para além de um balanço profissional, é nesta altura que dou por mim a fazer contas à vida. Pela primeira vez em quatro anos o saldo é positivo, não simplesmente positivo, mas francamente positivo.

Durante três anos senti-me a descer num escorrega em espiral. Não via o seu fim, mas conseguia adivinhar... era lá em baixo, onde acabavam todos os meus sonhos. Não havia hipótese de sair daquela espiral descendente e o meu medo de chegar ao fim, apenas retardava a descida, tornando-a ainda mais agonizante. Foi uma longa descida que terminou num daqueles dias de nevoeiro denso, em que o céu se cola à terra e em que o ar está tão carregado de água, que se torna impróprio para ser respirado por seres vivos sem guelras. Era impossível ver o que quer que fosse, nem mesmo me conseguia ver a mim própria, era como se simplesmente me tivesse liquefeito durante a descida... Não sei quantas horas teve aquele dia, sei que foram demasiadas, porque nestes lugares qualquer tempo que se passe é sempre excessivamente longo.


Junto ao mar, numa manhã cinzenta, em que as ondas tombavam violentamente na areia e em que as gaivotas eram prenúncio de tempestade, no instante em que ao salgado do mar se juntaram as minhas lágrimas, tornei-me uma com o que me rodeava. Foi nesse momento que voltei a sentir -me viva.

Há um ano, por esta altura, já havia iniciado o percurso de subida. Houve momentos em que sentia não conseguir andar, outros em que me sentia a escorregar e o medo de voltar a cair a espreitar de imediato. Centímetro a centímetro fui subindo, atingindo patamares mais altos. Foi um ano de conquistas, vejo-as como grandes conquistas. Sinto-me cansada, mas satisfeita por ter conseguido alcançar os objectivos que me propusera. Não o fiz sózinha. Fi-lo com uma força, a única em que nunca deixei de acreditar: a força do amor, aquela que sempre senti através da minha família e dos bons amigos que tenho. Se é verdade que a vida por vezes nos prega algumas rasteiras, não menos verdade é que também nos traz agradáveis supresas. Trouxe-me um anjo-da-guarda, que surgiu no meu caminho, de um modo totalmente inesperado (principalmente porque não acreditava neles) que me deu a mão, me fez sorrir e aprender a saborear pequenos instantes de cor.

Agora, sei que esta grande tempestade já passou. Não sei que caminho seguir, mas sei que se me sentar junto ao mar ele mo segredará, porque é nele que mora o meu coração.

sábado, 20 de junho de 2009

O QUE OS ADULTOS NÃO SABEM!!!


- Mãe, levo o boné?- pergunta o Miguel antes de sair de casa.

- Não, hoje não há sol.- respondo.

- Há sim!- contrapõe o Francisco.

- O céu está cheio de nuvens. Não se vê o sol.-retorqui.

- Não vês o sol, mas ele está lá. Está por detrás das nuvens.-explica o Francisco com firmeza, na sua vozinha de menino de 4 anos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

À PROCURA DE OUTRAS REALIDADES

"Para dar relevo aos meus sonhos preciso conhecer como é que as paisagens reais e as personagens da vida nos aparecem relevadas. Porque a visão do sonhador não é como a visão do que do que vê as cousas. No sonho, não há o assentar da vista sobre o importante e o inimportante de um objecto que há na realidade. Só o importante é que o sonhador vê.(...) Um poente real é imponderável e transitório. Um poente de sonho é fixo e eterno. Quem sabe escrever é o que sabe ver os sonhos nitidamente (e é assim) ou ver em sonho a vida, ver a vida imaterialmente, tirando-lhe fotografias com a máquina do devaneio, sobre a qual os raios do pesado, do útil e do circunscrito não têm acção, dando negro na chapa espiritual."
Bernardo Soares - Livro do Desassossego

Perdi a máquina do devaneio. O concreto e o útil são as tábuas a que me seguro neste momento da viagem. São a realidade em que confio. Às vezes procuro a menina que fui.



(O vídeo é muito longo, mas foi o único que encontrei com as primeiras cenas do filme, onde alguém escreve " Quando a criança era criança...)