Quando a vi hoje pareceu-me mais pequena. Não que alguma vez a tenha considerado alta, mesmo em criança já me apercebia da sua estatura baixa.
No momento em que cheguei estava sentada numa cadeira, bem na pontinha, com o olhar em lado algum. Ao aperceber-se da minha presença levantou os olhos para mim. Os mesmos olhos azuis, os olhos mais meigos que já vi, mas hoje até os olhos estavam diferentes... no seu olhar estava bem patente a confusão que sentia. Abracei-a e beijei-a como de costume. Não me reconheceu... Falei-lhe dos dias em que, logo de manhãzinha, me penteava os cabelos com vagar e carinho, porque sabia o quão difícil era desembaraçá-los em seco, das roupinhas que me fazia para as bonecas, do dia em que me ensinou a tricotar com paciência infinita para com as minhas mãozinhas desajeitadas, descrevi-lhe as blusas que me tricotara, modelos difíceis que conseguia desvendar olhando, através de uma lupa, horas a fio para as fotografias das revistas alemãs, onde eu encontrava os pull-over da minha preferência, falei-lhe das minhas travessuras com os meus primos... sorria enquanto me ouvia. Por fim disse-me:
- Eu sei quem és, só não sei como te chamas.
A minha tia explicava-lhe quem eu era, a filha do seu filho mais velho, a Carla. As suas palavras de nada serviam. A minha avó não conseguia reconhecer ninguém.
Nas minhas mãos as suas mãos frias, brancas quase translúcidas. Olhou-me a sorrir:
- Sei que gosto de ti.