"Aquelas maçãs verdes que costumávamos a apanhar despreocupadamente das árvores, pequeninas, calosas, com bichos, tão ricas na textura. Cada uma delas era absolutamente única, irrepetível, inclonável. Estavam todas por ali, à beira do caminho (...). Estávamos todos apaixonados, regra geral pelas pessoas erradas. Por isso, as paixões viviam-se como grandes aventuras todas ainda em aberto, e porque era assim que vivíamos éramos completamente leves.
"Depois ninguém se lembra lá muito bem do que foi que aconteceu, mas de repente já não nos restava a leveza. Como que de um dia para o outro, carregávamos agora nos ombros todo o peso do mundo. A vida era um labirinto de responsabilidades e deveres sem grande sentido, onde já não existiam caminhos e já não cresciam maçãs retorcidas penduradas nos muros. E, dos amores, existiam amarguras que nem sequer tinham nome. Era como se nos tivéssemos acostumado à ideia de que não ia ser bom, e de que nunca existiriam fins felizes.
"E, depois de nos termos habituado, já nos tínhamos mesmo esquecido.
"Já ninguém se lembrava de invocar sequer o conceito de felicidade.
"As canções e fotografias deste livro celebram um tempo outro, com espaço, personalidade, profundidade, e voz, de que ainda nos lembramos perfeitamente mas que já deixou completamente de existir. Nós fizémos parte dele. Ainda o temos cá dentro, fragmentado, enevoado, maltratado, mas a correr-nos nas veias e a temperar-nos a memória, pronto a estalar à superfície quando sentíssemos que já não teríamos nada a perder se nos recusássemos a ir por onde toda a gente vai"
Só Agora
"Era sempre uma tentação tão sedutora. Sabermos que tínhamos chegado aos braços de qualquer desejo sem qualquer futuro possível, e gozá-lo todo, sem pressa nem remorsos, como se fosse evidente que no dia seguinte a chama ainda estaria acesa. A beleza dos momentos que não existem é tão antiga. E está tão ameaçada de extinção(...)
Faz de conta que é só fechar a porta
E o mundo fica do outro lado
Agora eu sou a mais linda da festa
E tu és mesmo o meu namorado
Eu só quero beijar-te mais vezes
Faz de conta que vamos ter filhos
Numa casinha à beira da estrada
Que até tinha lagos com junquilhos
Hoje eu quero dizer para sempre
E viver a pensar só em ti
Faz de conta que é mesmo verdade
Que amanhã ainda estamos aqui
Posso olhar-te de frente nos olhos
Acreditar em tudo o que dizes
E enquanto durar esta noite
Faz de conta que vamos ser felizes
Excertos do livro "Canções que já não exitem" , com poemas de Clara Pinto Correia e fotografias de José Pedro Sousa Dias
10 comentários:
Não conhecia este livro.
Obrigada pela dica....
Beijinhos, Sunshine
Ainda hoje estive com esse livro na mão... E,ainda há dessas maças...mas acho que temos medo de as trincar e morder algum bicho...
O mundo é imenso e ninguém vai fazer uma porta tão grande ... fica aberto ... ou com o seu portão invísivel...
Beijinhos das nuvens
Lindo!! O Poema retrata aquilo que sempre ideializei, e que na realidade não passa de um lindo conto de fadas que só de vez em quando se concretiza!!
Beijos cheios de saudades tuas!!!
Sani
Um fascinio o teu post...
Uma rosa breve
Uma hortênsia de alva cor
A terra molhada pelo sereno
Nos celeste paira um Açor
A madeira verde, a dança do fogo
O embalo do loureiro no vento, o alecrim
Um ribeiro de inquietas águas
Levam o perfume das mágoas em viagem sem fim
Convido-te a sentir a minha paleta de aromas
Mágico beijo
LISBOA * PORTUGAL
ferreihenrique@gmail.com
Boas
Passei hoje por aqui para te dizer olá! E ver como vão as coisas. Pelo que vejo, felizmente bem. Com livros, vai tudo bué da fixe!Repito: gosto deste blogue. Virei cá sempre que puder pois entendo que o mereces – e dá-me prazer.
Espero também que voltes ao meu Travessa do Ferreira (www.travessadoferreira.blogspot.com). Ou que o visites pela primeira vez. Ficarei, podes ter a certeza, muito satisfeito.
Qjs Abs
Excelente este post que me deu a conhecer um livro que adivinho muito interessante.
E não te esqueças que és Happy, mesmo "when it rains".
Bom fim de semana, linda sunshine
""Era sempre uma tentação tão sedutora. Sabermos que tínhamos chegado aos braços de qualquer desejo sem qualquer futuro possível, e gozá-lo todo, sem pressa nem remorsos, como se fosse evidente que no dia seguinte a chama ainda estaria acesa..."
Inevitavelmente, recuei ao tempo sem pressa de nada...
Beijo
Querida Sun
Não conhecia o livro, mas há uma coisa que te digo, para sobreviver não penso mais no assunto, não quero saber de faz-de-conta só d adura realidade; mesmo que ela seja deveras dolorosa.
Sê feliz.
Jasmim
não entres nessa, não queiras fazer de conta. Dói mais...
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