quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL


O milagre acontece quando decidimos proteger quem amamos.


sábado, 6 de dezembro de 2008

A MAGIA DO NATAL



- Tantas bonecas novas! - exclamou a menina de olhos brilhantes e abertos de espanto. Parara à porta da sala, não se atrevendo a entrar. Incrédula olhava as lindas bonecas cuidadosamente dispostas por toda a sala. Só depois reparou no Pai Natal ali mesmo ao lado com um saco cheio de prendas, embrulhadas em papéis coloridos, para a pequenada.


Esta é a recordação que conservo do meu melhor Natal enquanto criança. O impacto da imagem das muitas bonecas (provavelmente não eram assim tantas) espalhadas pela sala foi tão forte que quando relembro aquele Natal a imagem que me surge é a das bonecas, que apesar de saber que eram as minhas bonecas antigas lavadas, penteadas e vestidas com roupas tricotadas e costuradas pelas mulheres da família, durante muitos anos recordei como sendo novas. Os presentes trazidos pelo Pai Natal naquele ano foram relegados para segundo plano.

A preparação para o Natal na minha família começava muito cedo. Muitas das ofertas eram realizadas pela minha mãe, pela minha avó e pelas minhas tias. Era um tal tricotar, costurar, bordar: faziam-se camisolas, bordavam-se biscoiteiras, toalhas, confeccionavam-se cortinados, mantas, naperons para a casinha das bonecas, faziam-se palhaços em lã e bonecas de trapos... enfim era uma azáfema em que os crescidos além de pretenderem surpreender as crianças, procuravam surpreender-se uns aos outros. Depois era a altura de confeccionar os bolos, fazer os torrões de amendoim e açucar, fritar as favas e o grão-de-bico. Apanhavam-se no jardim ramos secos, folhas e pinhas que eram pintados e dispostos em arranjos que decoravam as mesas. A casa cheirava a criptoméria e a bolos de fruta. Todas as tarefas eram realizadas em família e por todo o lado ouvia-se a minha mãe a cantar músicas de Natal. Tudo era preparado com antecedência e cuidado para que quando chegasse a grande noite de vissem os olhos das crianças a brilhar e se ouvissem as suas exclamaçoes de alegria.

Com o passar dos anos o Natal foi perdendo devagarinho o seu brilho. Primeiro deixei de acreditar no Pai Natal, depois a família afastou-se geograficamente e finalmente perdi a fé no Menino Jesus. Hoje não celebro uma festa católica, comemoro o nascimento de um ser humano maravilhoso, que em tempos acreditei ser Deus. Hoje celebro a festa do AMOR.
Agora cabe-me a mim trazer alguma da magia que vivi para a minha casa, é a minha vez de fazer brilhar os olhos dos pequeninos.

sábado, 29 de novembro de 2008

LÁ DENTRO... O MAR



Seguro na mão uma bola de vidro azul. Encontrei-a no canto da sala. Berlinde perdido na última brincadeira. Na casa não se ouvem nem os risos nem as vozes infantis de ontem.
Silêncio.
Olho em volta e não entendo o que faço aqui. Não reconheço os rostos das fotos. Não gosto daqueles frios objectos de metal em cima dos móveis enormes e feios. A cor das paredes dá-me náuseas. Sinto-me uma estranha... uma estranha na minha própria vida. Alguém alterou o código que me permitia aceder ao meu pequeno mundo e que agora simplesmente não entendo.
Olho o pequeno tesouro que tenho na mão.
- Se olhares com muita força, vês lá dentro o mar. - sussurra uma voz de criança.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS

"Esta vida são dois dias
E um é p'ra acordar
Das histórias de encantar"

cantava Pedro Abrunhosa num dos canais de música na T.V., da sala de espera do escritório de advocacia da dra. Sara.
Durante meses percorrera conservatórias, repartições de finanças, entrara e saíra de salas como aquela, numa sucessão infinita de gabinetes, tentando lidar com uma burocracia que não compreendia e que a fazia permanecer numa história que já não queria sua. Agora estava a dois passos de poder colocar o ponto final naquele conto de final triste.
- D. Conceição, a dra. Sara já a pode atender.
Levantou-se dirigindo-se ao gabinete onde já tantas vezes entrara. Atrás de si continuava a ouvir-se:
"... E um é p´ra acordar
Das histórias de encantar
Das histórias de encantar..."

sábado, 8 de novembro de 2008

LOST IN TRANSLATION

Realização e Argumento: Sofia Coppola.

Elenco: Bill Murray, Scarlett Johansson, Giovanni Ribisi, Anna Faris.

Nacionalidade: EUA/Japão, 2003.


Pegando no título original, Lost in Translation faz-nos realmente sentir perdidos na tradução. Não a tradução entre o inglês e o japonês, um jogo que nos dá alguns dos momentos mais divertidos; mas a tradução entre o mundo e cada um de nós como parte desse todo. O sentimento de inadequação e desgarramento não está dependente da acção se desenrolar em Tóquio, mas do facto de se terem esquecido de dar a Charlotte e a Bob um dicionário que os ajude a compreender esse idioma estranho com que o mundo e a sociedade lhes falam. A não comunicação de ambos com os seus respetivos parceiros evidencia isso mesmo: o marido fotógrafo de Charlotte basicamente esquece-se dela durante todo o dia, e Bob encontra-se bastante mais longe da sua companheira que os quilómetros que fisicamente os separam.


Mas, no fim, fica a vontade de não encontrar sequer esse papel pré-definido, a vontade de inventar o seu próprio caminho, a sua própria linguagem que, num segredo sussurrado, deixa o espectador a procurar no seu íntimo o desfecho da história, a explicação.


Custa classificar este filme como comédia. Sim, sorrimos muitas vezes, e uma gargalhada ou outra será inevitável, mas a tristeza está tão impregnada nos silêncios e nos olhares que é difícil não repararmos nela. Um pouco como o contraste de cor entre a Tóquio de noite, com os seus garridos néons, os seus ensurdecedores karaokes, e animação descontrolada; e a Tóquio de dia, de cores suaves de pastel esbatido, de uma cidade que se cala para trabalhar e se fecha num quarto de hotel.


O ritmo do filme é como uma respiração, acompanhando a exasperação e o cansaço dos personagens, a sua euforia e a sua descoberta, em duas interpretações magistrais, de contenção expressiva, por parte de Scarlett Johansson, uma das actrizes do ano, e a comicidade trágica de Bill Murray, num dos seus melhores registos de sempre.


Na identificação de um momento, o elemento que os une (a nacionalidade, o idioma comum, a estranheza do contexto) serve de ajuda a essa busca de um sentido que, naquela semana, parece resumir a preocupação de toda uma vida. E assistimos à construção, em pequenos detalhes, de um amor que é identificação, compreensão, aceitação. Um sentimento que não precisa de tradução. E como completa a voz de Brian Ferry, no momento mais emotivo do filme: “More than this, there is nothing…”.

Extraído de: http://cinerama.blogs.sapo.pt/71567.html

Do filme, que vi ontem retive a frase:
"The more you know who you are and what you want, the less things upset you."

sábado, 1 de novembro de 2008

EXISTEM PESSOAS EXCEPCIONAIS


À minha frente estava sentada uma mulher jovem, deveria ter entre vinte e cinco e trinta anos. Era bonita e vestia-se com gosto. Apresentou-se-me como sendo a encarregada de educação do Pedro, o aluno que acabara de chegar à minha direcção de turma. O Pedro viera transferido de uma escola do continente, integrara a turma uma semana após o ano lectivo se ter iniciado. Maria, era assim que se chamava a jovem à minha frente, explicou-me que tinha pedido a guarda do meu aluno e que esta lhe tinha sido concedida. Tudo começara quando o conheceu numa instituição em que trabalhara como assistente social. A mãe do Pedro sofrera um aneurisma e encontrava-se em estado vegetal, o pai entregara o filho aos cuidados de uma instituição, apesar de dispor de recursos para cuidar do menino. Maria afeiçoou-se-lhe e quando, por motivos de colocação, deixou de trabalhar na instituição onde este se encontrava passou a convidá-lo para passarem juntos fins-de-semana e férias. O problema surgiu quando Maria foi colocada nos Açores, ficando impossibilitada de ver o Pedro com a frequência a que já estavam habituados.

- O Pedro ressentiu-se muito. Sentia a minha falta. - explicou-me a Maria - O que poderia fazer? Pedi para ficar com a guarda dele.

Foi assim que o Pedro veio parar à minha turma.

- Eu ajudei o Pedro a preencher a ficha biográfica. Ele estava com dificuldades com o nome que devia colocar onde dizia "Nome da mãe". Disse-me: "Sabes Maria, é que para mim tu és a minha mãe, mas não posso lá escrever o teu nome. Toda a gente vê que não és a mimha mãe." - contou-me a Maria.


Maria é uma encarregada de educação interessada. Preocupa-se com o comportamento, o aproveitamento, as dificuldades de aprendizagem, a integração do Pedro na escola. Conhece as dificuldades que ele tem ao nível da escrita, sabe os erros que ele comete, ajuda-o a estudar para os testes, está a par das novas amizades que faz, mantém-se ao corrente do que se passa na escola, das traquinices e dos problemas próprios da idade.


É raro o dia em que não me lembre da atitude da Maria, uma jovem solteira, bonita, com um bom emprego e que fica com um menino de 14 anos, é esta a idade actual do Pedro, à sua responsabilidade. Não posso pensar que o fez inconscientemente uma vez que trabalha todos os dias com crianças desta idade e que foram abandonadas. São pessoas como a Maria que me fazem acreditar nesta força incrível que é o Amor.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

POR INTEIRO


- A tua cara-metade foi-se embora!

Assustada olhou o espelho à espera de ver apenas metade da sua cara. A imagem que viu era a do seu rosto. Inteiro. Incrédula confirmou: uma boca, um nariz, dois olhos... uma lágrima no canto esquerdo. A metade que se fora não era a sua. Entendeu que partir gente ao meio é idéia de gente que não entende que quando se é, é-se por inteiro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RECOMEÇA

Recomeça...
Se puderes,
sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro,
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
e vendo,
acordado,
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

Este poema foi-me enviado por uma amiga.
É uma pessoa especial:
diz que não gosta de poesia, mas envia-me um poema,
consegue ouvir as palavras que não digo,
sabe como fazer sentir a sua presença em todos os momentos.
Para ela vai o meu muito obrigada.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

NA TERRA DOS SONHOS

Por um instante brinco com o tempo e seguro os ponteiros do relógio...
Estou no meu lugar de sempre. Onde descobri o frio da água e o calor do sol, o sabor a sal e o cheiro a mar. Onde aprendi que o vento acaricia e que as ondas também servem de berço. Dou por mim a conjugar verbos de outros tempos e que julgava perdidos. As palavras ganham forma e o mar susssurra-as docemente.

sábado, 13 de setembro de 2008

ETERNAMENTE



Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na eternidade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
in "Não te deixarei morrer, David Crocket" de Miguel Sousa Tavares
Por falta de disponibilidade tenho andado afastada deste e dos vossos espaços. Quando tudo voltar aos seus devidos lugares retomarei as minhas visitas de que tanta falta sinto.

sábado, 6 de setembro de 2008

SEM NEXO



Palavras
naufragadas no cérebro
silêncio branco
sem ondas
liso
Palavras
presas nos dedos
folha limpa
sem uso
lisa

domingo, 31 de agosto de 2008

PASIÓN

No me olvides
yo me muero
Amor
mi vida es sufrimiento
Yo
te quiero en mi camino
Por vos
cambiaba mi destino

Ay,
abrázame esta noche
aunque no tengas ganas
prefiero que me mientas
tristes breves nuestras vidas
acércate a mí
abrázame a ti por Dios
entrégate a mis brazos.

Tengo
un corazón penando
Yo sé
que vos lo está escuchando
Con
mil lágrimas te quiero
Pasión
sos mi amor sincero

Ay,
abrázame esta noche
aunque no tengas ganas
prefiero que me mientas
tristes breves nuestras vidas
acércate a mí
abrázame a ti por Dios
entrégate a mis brazos

Ontem à noite, em Ponta Delgada, Rodrigo Leão ao vivo

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A MINHA PRAIA

Praia do Pópulo

É dos dias que passei nesta praia que vou ter mais saudades.
Dos dias como este em que a praia foi praticamente minha.
Houve dias em que aqui estive bem cedo a dar o meu mergulho ainda antes de tomar o pequeno-almoço.
Noutros dias saí daqui já estava a anoitecer.
Foi companheira de risos e brincadeiras. Foi companheira dos dias tristes...
Neste mar vi a serenidade que desejo minha.
Foi a voz deste mar que suavisou a minha dor.
Neste mar me deitei a olhar o céu e senti a paz que um e outro me transmitem.
Foi aqui que recolhi a energia do Sol que guardo para os dias de Inverno.
E quando os dias de Sol se forem, irei dar os meus passeios junto a este mar...meu eterno companheiro.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

NO MURMÚRIO DAS ONDAS


Uma a uma as ondas chegavam de mansinho à praia

No seu murmúrio suave distingui o teu nome

Na maresia o teu cheiro

No seu brilho o dos teus olhos

Na espuma as tuas mãos

Perguntei-lhes por ti

Uma a uma as ondas continuaram a chegar à praia

Contei-lhes um segredo

O meu amor mora no meu peito

domingo, 24 de agosto de 2008

FICO ASSIM SEM VOCÊ

Hoje é esta a minha canção...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

CANÇÕES QUE JÁ NÃO EXISTEM

"Para onde terão ido as nossas maçãs?

"Aquelas maçãs verdes que costumávamos a apanhar despreocupadamente das árvores, pequeninas, calosas, com bichos, tão ricas na textura. Cada uma delas era absolutamente única, irrepetível, inclonável. Estavam todas por ali, à beira do caminho (...). Estávamos todos apaixonados, regra geral pelas pessoas erradas. Por isso, as paixões viviam-se como grandes aventuras todas ainda em aberto, e porque era assim que vivíamos éramos completamente leves.


"Depois ninguém se lembra lá muito bem do que foi que aconteceu, mas de repente já não nos restava a leveza. Como que de um dia para o outro, carregávamos agora nos ombros todo o peso do mundo. A vida era um labirinto de responsabilidades e deveres sem grande sentido, onde já não existiam caminhos e já não cresciam maçãs retorcidas penduradas nos muros. E, dos amores, existiam amarguras que nem sequer tinham nome. Era como se nos tivéssemos acostumado à ideia de que não ia ser bom, e de que nunca existiriam fins felizes.


"E, depois de nos termos habituado, já nos tínhamos mesmo esquecido.


"Já ninguém se lembrava de invocar sequer o conceito de felicidade.


"As canções e fotografias deste livro celebram um tempo outro, com espaço, personalidade, profundidade, e voz, de que ainda nos lembramos perfeitamente mas que já deixou completamente de existir. Nós fizémos parte dele. Ainda o temos cá dentro, fragmentado, enevoado, maltratado, mas a correr-nos nas veias e a temperar-nos a memória, pronto a estalar à superfície quando sentíssemos que já não teríamos nada a perder se nos recusássemos a ir por onde toda a gente vai"



Só Agora


"Era sempre uma tentação tão sedutora. Sabermos que tínhamos chegado aos braços de qualquer desejo sem qualquer futuro possível, e gozá-lo todo, sem pressa nem remorsos, como se fosse evidente que no dia seguinte a chama ainda estaria acesa. A beleza dos momentos que não existem é tão antiga. E está tão ameaçada de extinção(...)




Faz de conta que é só fechar a porta
E o mundo fica do outro lado
Agora eu sou a mais linda da festa
E tu és mesmo o meu namorado


Eu só quero beijar-te mais vezes
Faz de conta que vamos ter filhos
Numa casinha à beira da estrada
Que até tinha lagos com junquilhos


Hoje eu quero dizer para sempre
E viver a pensar só em ti
Faz de conta que é mesmo verdade
Que amanhã ainda estamos aqui


Posso olhar-te de frente nos olhos
Acreditar em tudo o que dizes
E enquanto durar esta noite
Faz de conta que vamos ser felizes


Excertos do livro "Canções que já não exitem" , com poemas de Clara Pinto Correia e fotografias de José Pedro Sousa Dias

domingo, 17 de agosto de 2008

DÚVIDAS



Hoje o céu não foi azul e as nuvens não foram brancas, leves e fofas.
Hoje as nuvens desceram pesadas e colaram-se ao mar.
Um silêncio cinzento envolveu-me e apertou-me lentamente o peito. Não via o céu, não via o mar. Chegou aos meus ouvidos, quase inaudível, o apito abafado de um barco. Estaria a avisar da sua chegada ou estaria a partir? Em dias assim, as dúvidas emergem, descomunais, como monstros marinhos que esticam os seus tentáculos e me rodeiam tentando sufocar.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

ESPERO

Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
de Sophia de Mello Breyner

terça-feira, 12 de agosto de 2008

PROCURO-TE

Jardim dos poetas de Van Gogh

Palavras...
Mar, céu,
Vento, brisa,
Montes, vales
Jardim onde te passeias
Palavras...
Pintam os teus sentires
Moldam o teu rosto
Dão cor aos teus olhos
Escrevem a melodia da tua voz
Palavras...
Emerges do meio delas
Sinto a tua mão
No lado esquerdo do meu peito
Encontras-me

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

...

Esta noite brilha, pela primeira vez, uma estrela no céu.

MILAGRE


Algures na minha adolescência explicaram-me que para os católicos um milagre era um sinal visível do amor de Deus. Ilustraram esta definição com uma história que nunca esqueci e que hoje, apesar de não ser crente, mantém-se parte daquilo que sou. Então aqui vai a história que me contaram: Um casal de namorados, muito apaixonados, não se podia encontrar tanto quanto gostariam. A rapariga, afim de diminuir o sofrimento que isto lhes causava, disse ao namorado que todos os dias iria colocar flores na janela do seu quarto em sinal do seu amor por ele. Deste modo, sempre que ele passasse pela sua casa e visse as flores saberia que ela se havia lembrado dele e se mantinha fiel ao amor que sentia. Os transeuntes que por ali passavam ou não viam as flores, ou se reparavam nelas viam simplesmente umas flores numa janela, apenas para o namorado aquelas flores tinham um significado.
Mais do que promessas adornadas por lindas palavras são os gestos que me atraem para as pessoas. São gestos simples, mas repletos de significado, são modos de ser que se mantém e me fazem sentir que posso confiar. São gestos de carinho e de atenção: uma pulseira que alguém me ofereceu por sentir que eu não estava bem, um livro comprado pensando em mim, um e-mail, um sms, um convite para "arejar as idéias", uma caixinha cheia de sonhos ... Por isso, quando cheguei a casa e vi que me tinhas telefonado, aquele número no visor do telefone representava muito mais que uma chamada não atendida!

sábado, 2 de agosto de 2008

PRESENTE

Ao contrário do que me acontece com os papéis, que estão sempre numa grande bagunça, no meu cérebro tem que estar tudo muito organizado. Na penúltima Primavera não conseguia entender o que se estava a passar na minha vida. Tive de parar e durante meses olhei o meu passado, revi imagens, analisei acontecimentos, passados e presentes, peguei neles como se fossem peças de um puzzle e por tentativas, fui-os encaixando até formarem um todo sem espaços vazios. Contemplei demoradamente o resultado: era o quadro da minha vida até àquele momento... era o meu passado compreendido e aceite. Não havia mais nada a fazer no sótão das minhas memórias. Saí, fechei a sua porta e olhei em volta: estava num quarto por onde a luz do Sol primaveril entrava através de largas janelas e portas. Suspirei de alívio... já podia seguir em frente.
Agora, em pleno Verão, sinto-me em paz. Reconheço a importância do meu passado para a construção da pessoa que hoje sou, tenho a certeza que fiz bem em fechar aquela porta - a do sótão - e que a fechei na altura certa, sei que o posso re-visitar quando quiser e que ele não me irá magoar. Sinto-me bem por não me ter deixado ficar prisioneira do meu passado, por ter escolhido uma porta e ter ousado seguir um caminho. Não teria tido esta força se não pudesse contar com o AMOR que sinto que me rodeia, me envolve e me instiga a não parar. Não sei onde termina o caminho que sigo, nem penso que isto seja importante. O importante é seguir este caminho usufruindo de tudo o que me dá. Não mais me irei sentir só, porque tive a sorte (terá sido sorte? dizes que nada acontece por acaso) de nos termos encontrado...

terça-feira, 29 de julho de 2008

O PEQUENO SISMO

Há um pequeno sismo em qualquer parte

ao dizeres o meu nome.

Elevas-me à altura da tua boca

lentamente

para não me desfolhares.

Tremo como se tivera

quinze anos e toda a terra

fosse leve.

Ó indizível primavera!


De Eugénio de Andrade

quinta-feira, 24 de julho de 2008

FORA DO RITMO

Hoje lembro-me de ti tal como eras há 25 anos: cabelos loiros, olhos claros, sorriso terno, olhar travesso... esta é a imagem que permanece intacta na minha memória e não a substituo por nenhum dos instantâneos que a minha retina captou nos últimos anos. A razão é apenas uma: só naqueles três anos viveste em mim, hoje vives a tua vida e eu a minha.
Descobri-te ao mesmo tempo que aprendi que quando faz calor também podemos sentir arrepios, que o Sol brilha mesmo em dias de chuva e que o coração não bate sempre do mesmo modo. Naqueles dias não tinham significado palavras como talvez, futuro, impossível... A saudade, mesmo quando fazia doer, era doce e a vida era bela só por saber que estavas lá... no meu coração. Foste-te embora: não me magoaste nem me decepcionaste, não tinhas promessas para cumprir... simplesmente deixamos de partilhar a mesma escola. Sim, naquela altura éramos crianças.
Hoje existe uma razão para te recordar: o meu coração voltou a bater fora do ritmo!

domingo, 20 de julho de 2008

DOR (IN)CONTIDA


A maior dor
é a que sinto ao ver
a lágrima sentida
sofrida
a custo contida
em teus olhos
Mesmo que fizesse
o vento soprar
o Sol brilhar
a Terra girar
não poderia dissipar
a tua dor... Filho
E no silêncio da noite
soltam-se dos meus olhos
as lágrimas que não deixaste cair.
Este corpo pequenino e franzino alberga um grande homem.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A NOSSA VIAGEM

Naquela manhã, bem cedo, desceu à praia.
O Sol dava início a um novo dia descobrindo os seus primeiros raios. A praia era só dela... inspirou fundo para sentir o cheiro do dia que despontava lavado em maresia. Passeou na faixa de areia onde as ondas da noite anterior tinham repousado, mas onde agora já não conseguiam tocar. Não havia nuvens no céu e via claramente a linha do horizonte ... nascia um dia puro, impregnado de sonho e esperança. Chegou ao extremo da praia onde as rochas mergulhavam na água e sentou-se olhando o seu mar e apreciando a sua companhia. Fechou os olhos, sentia o calor ténue do Sol, uma brisa suave e o murmúrio das ondas que chegavam de mansinho à praia... e sentia aquele calor agradável nos seus ombros. Sem surpresa viu-o ali ao seu lado, sorrindo-lhe. Devolveu-lhe o sorriso... Sentira desde sempre a presença dele, na sucessão ininterrupta dos dias, do nascer ao pôr-do-Sol e do anoitecer até à aurora. Sim, sabia que ele sempre estivera com ela.
Olhou a praia ainda deserta. Na areia ao lado das suas pégadas estavam outras maiores: as dele.

terça-feira, 15 de julho de 2008

DUAS?

Era Verão e escurecia, estava quente e abafado. As nuvens forravam o céu de cinzento escuro, quase negro: ameaçavam chuva. Prescindiram do passeio à beira-mar. No centro comercial escolheram um filme: nada de histórias tristes ... uma história de amor de final feliz, como sonhavam a sua.
Terminado o filme, pararam na casa de chá, como era seu costume.
Enquanto preparava a bebida lembrava-se do livro que lera há já alguns anos "Chá e amor"... bebeu o líquido em pequenos golos, saboreava-o lentamente, enquanto se recordava da cerimónia de chá tão bem descrita no livro.
- Vai querer mais?
À sua frente apenas se encontrava o empregado que os atendera. Olhou em volta. Ela era a última cliente.
- Não, obrigada. Já estou de saída.- respondeu.
Ao levantar-se olhou surpresa as duas chávenas de chá que estavam na mesa. Teimosamente silenciosas não respondiam à pergunta que ela apenas era capaz de formular em pensamento.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

NÓS?

Entreabriu preguiçosamente os olhos ... os raios de Sol entravam pela janela, suavemente filtrados pelos pesados cortinados.
Os pássaros com seu cântico, a terra orvalhada eo seu cheiro a vida anunciavam o começo de um novo dia.
Sentia o agradável calor do corpo dele, deitado ali, a seu lado. Ainda dormia... enroscou o seu corpo ao dele, com cuidado para não o acordar. Fechou os olhos. O ritmo da respiração dele embalou-a ... adormeceu docemente.
Abriu os olhos! Não se ouviam pássaros, só os carros apressados lá em baixo no asfalto. Estava deitada, sózinha naquela cama imensa.

O QUE ACONTECEU A ESTE BICHO?


Aqui estou de volta, após trocas de modem, alterações no hardware, formatações, várias chamadas telefónicas e, por fim... recurso aos médicos destes "bichos" complicados.

domingo, 29 de junho de 2008

GRACIAS A LA VIDA


Houve dias em que senti que a vida me tinha tirado tudo. Quanto me enganava! Foi nessa altura que a vida tudo me ofereceu.
Houve dias em que nem forças tinha para pedir, para sonhar, para desejar, para querer... não foi preciso fazê-lo. A vida deu-me tudo o que precisava!
Einstein escreveu:
"Há duas formas para viver a vida
Uma é acreditar que não existem milagres.
A outra é acreditar que todas as
Coisas são um milagre"
A vida deu-me a maior das prendas: acreditar no AMOR e conseguir ver em tudo uma dádiva.
Hoje, sei que não preciso pedir nada...

QUANDO ESTIVE NUM BURACO NEGRO


"O cansaço define-se como uma sensação de esgotamento posterior a um esforço de certa envergadura. E há várias causas que o motivam: trabalhar, estudar, ordenar papéis pessoais, o marido, a mulher, a política, etc. Sendo assim, quando alguém diz que está cansado da vida, é distinto, porque tudo se apresenta vago, abstracto, amplo, difuso, inadequado, sem uma referência clara e precisa."

"... interessa-nos descobrir qual é a vivência do sujeito cansado da vida, já que a sensação interior é muito profunda. No seu íntimo habita uma mescla de sentimentos desagradáveis: a indolência, a apatia, o abandono, a impressão de fazer tudo sempre com excesso de esforço; a personalidade tinge-se de um gosto indolente, no qual se alinham o tédio, o desalento, o pessimismo, o desânimo, a melancolia e o sentimento de impotência no respeitante à vida. Emerge lentamente uma espécie de abatimento decepcioante combinado com a impressão de estar ferido ou quebrado por dentro."

" O grande tema que se coloca no fundo desta vivência não é outro que a ameaça do projecto pessoal, que foi caindo a pique e corre o risco de naufragar."

" ... pode dever-se a muitos e distintos motivos: excesso de actividades, sem tempo para quase nada; luta permanente contra a corrente, sem sequer pequenas gratificações; perda do sentido dos objectivos próprios por causa de um ritmo de vida vertiginoso; o não saber dizer «não» a pedidos e a exigêngias que são impossíveis de levar a cabo; numa palavra: ter um tipo de vida com uma tensão excessiva e constante, que requer um esforço superior às próprias forças e que ronda o esgotamento, num equilíbrio instável quase acrobático."

in " O HOMEM LIGHT" de Enrique Rojas


sexta-feira, 27 de junho de 2008

FEITO DE PLÁSTICO


" O desvanecimento das habilidades da sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirada no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objectos de consumo e a julgá-los, segundo o padrão desses objectos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e pelo seu «valor monetário». Na melhor das hipóteses, os outros são avaliados como companheiros na actividade essencialmente solitária do consumo, cujas presenças e participação activa podem intensificar estes prazeres. Neste processo, os valores intrínsecos dos outros como seres humanos singulares ( e assim também a preocupação com eles por si mesmos e por esta singularidade) estão quase a desaparecer de vista. A solidariedade humana é a primeira baixa causada pelo triunfo do mercado consumidor."
in "AMOR LÍQUIDO" de Zygmunt Bauman

Tudo, objectos, animais, pessoas, relações, passa à condição de descartável e é passível de substituição.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Amizade...Amor



Obrigada Tanokas pelas dicas.

Amizade ... Amor

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

William Shakespeare

domingo, 22 de junho de 2008

O TEU MUNDO DE CRIANÇA


Domingo é dia de almoço de família.

A conversa, umas anedotas, gargalhadas e a comida gostosa da minha mãe são os pratos servidos.

Hoje a conversa, não sei por que razão foi parar à Filosofia: filósofos clássicos, filósofos modernos, a filosofia e a Matemática.

O M, sempre atento, perguntou de imediato o que era a Filosofia. Os adultos responderam "A ciência que estuda os porquês", " Amiga do saber" e por aí fora. Quando o M, já se encontrava satisfeito com as respostas voltaram à sua conversa de adultos: filósofos existencialistas e suas contradições. Citaram Sartre, como exemplo: " O Homem está condenado a ser livre."

- Se eu vir a vida de um modo negativo, a liberdade pode ser uma condenação - disse prontamente o M, antes que os crescidos começassem a discutir a frase.

Fez-se silêncio... os adultos estavam estupefactos e incrédulos com as palavras saídas da boca de um menino de 8 anos.

sábado, 21 de junho de 2008

O MEU CORAÇÃO BATE PORQUE...

Tenho uma certeza... as minhas duas caras lindas

Sei que o Sol todos os dias nasce... especialmente para mim ( e para cada um de nós)

Tenho o meu mar onde posso ir sempre lavar a minha alma:


Posso contar com um abraço especial

Não preciso esperar para receber verdadeiros tesouros de amizade


Existem trilhos para explorar


Espero que o amor eterno exista

DOR

Na semana passada, ao jantar o M disse-me:
- Mãe, os meus amigos, na escola, disseram-me que quando não se vai à catequese, não se faz a primeira comunhão nem o crisma, não se pode casar. É verdade?
- Não, M. Não se pode casar pela Igreja, mas pode-se casar ao civil como o tio X fez. Gostavas de ir para a caqueses?
- Não. E tu e o pai, como foi?
- Casamo-nos pela Igreja. Na altura éramos católicos. Olha a Y, amiga da mãe, só de baptizou aos 18 anos. Quando quiseres, se quiseres, podes fazer a comunhão, crismar-te e tudo o mais.
- Então tu e o pai podem casar-se.
- Sim.

Na última quarta-feira, novamente ao jantar.

- Amanhã o pai vem buscar-me, para me levar à escola?
- A mãe esta semana pode levar-te, mas tu quiseste que o pai viesse, não foi?
- Então amanhã vai ser como antes de tu te teres separado do pai?
- Não foi a mãe que se separou do pai. A mãe e o pai deixaram de gostar o suficiente um do outro para continuarem casados (frase combinada pelos adultos e repetida vezes sem conta), separamo-nos um do outro.
- A mãe e o pai podem voltar a casar-se?
- O que queres dizer com isso?
- Podem voltar a casar-se novamente, um com o outro.
- Não é provável, porque como os pais já explicaram, já não gostamos um do outro do modo que as pessoas casadas gostam.
- Mas podem voltar a casar-se?

E foi aqui que me faltou a coragem. Como poderia explicar-lhe que é impossível os pais dele voltarem a viver juntos? Não consegui acabar com esta sua ilusão. O meu "não é provável" poderia ter sido substituído por um redundante "não". A lei permite que nos voltemos a casar, é possível legalmente... a impossibilidade reside nos nossos corações.
É esta a dor que me magoa bem lá no fundo: a de não ter podido, nem poder, dar aos meus filhos a família que gostaria que tivessem, aquela família que todas as crianças desejam, com o pai e a mãe juntos.
Não é uma questão de culpa, não se trata de não saber que é melhor para as crianças que os pais estejam felizes e separados, do que juntos e infelizes. Sei que hoje, felizmente, já não vão ser olhados de lado por os pais estarem divorciados, sei que o importante é sentirem-se amados por ambos os pais, sei que o tempo atenua a dor. Sei muitas outras coisas que li, que aprendi com a experiência de outras pessoas, com especialistas e por aí fora. O problema está racionalizado!


Dói-me a impotência perante o sofrimento dos meus filhos...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

BEM ME QUER

Existem coisas, que por mais que tentemos, não conseguimos esconder.

Há alguns meses, o M, de 8 anos, veio perguntar-me alguma coisa enquanto eu preparava o jantar. Quando me viu perguntou:

- Porque estás a chorar?

- Porque as pessoas crescidas também ficam tristes e às vezes apetece-lhes chorar. - respondi.

Quando M vai para um lado é imediatamente seguido pelo F, de 4 anos, que chegara naquele momento à cozinha:

- Mãezinha, tens dói-dóis nos olhinhos?

- Tenho amor.

- Deixa-me dar-te um beijinho nos olhinhos.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Perguntas difíceis

Aqui há uns aninhos, o meu filho mais velho, sem mais nem menos ( porque ele é mesmo assim, quando há uma coisa que não compreende pensa primeiro e depois, sem preâmbulos, dispara a sua questão) perguntou-me: " O que acontece quando nós morremos?"
- Não sei.- respondi-lhe eu, não gosto de mentiras, principalmente ditas às crianças - Há quem acredite que as pessoas boas vão para o céu, que é um "lugar" muito bonito, há quem acredite que voltam à Terra e vivem outras vidas, há quem acredite...
- E tu em que acreditas, mãe?
- Que morremos e pronto ... não há mais nada.
- Ah! Assim como quando os filmes acabam.
- Sim.

A conversa terminou e até hoje a resposta que lhe dei me atormenta. Fui verdadeira, procurei responder à sua pergunta o melhor possível, mas continuo a perguntar-me se fiz bem. Será que tinha o direito de lhe roubar ilusões? E depois, quando alguém querido morrer, falo das estrelas?

Talvez, por isso, ontem não fui capaz de lhe dizer a verdade nua e crua, mas esta é outra história.

terça-feira, 17 de junho de 2008

NÓS


Juntos
Ganhamos asas
Voamos
No azul celeste
Naquele céu só nosso
Cheira a sonho
E as nossas asas tocam-se
Num instante
Eterno em nossos corações

sexta-feira, 13 de junho de 2008


Quero agradecer a todos os que por aqui passaram e comemoraram o meu aniversário comigo.

Há alguns anos que não passava o meu dia de anos tão bem. Foi um dia em que estive rodeada por pessoas que me amam e que fizeram tudo, tudo mesmo, para que ontem fosse um dia especial. Conseguiram-no! Senti-me acarinhada, querida...amada! Que melhor prenda podia pedir?
Tenho dois tesouros ( os meus pequeninos), uma família especial e amigos do coração ... e tenho o meu anjo!
Se é verdade que se este último ano foi complicado, não é menos verdade que com as dificuldades aprendi muito e acima de tudo pude sempre contar com o apoio, a amizade, o amor de muitas pessoas. Reencontrei amigos algo distantes, fiz novas e boas amizades.
Já escrevi muitas vezes que sinto que renasci que sinto que tenho uma vida nova pela frente. Entrei numa nova fase, vou vivê-la do melhor modo, com as ferramentas que adquri e com a certeza que tenho ao meu lado quem verdadeiramente gosta de mim. Sei que, como acontece aos bebés, para aprender a andar nesta nova vida vou tropeçar e vou cair, mas tenho a certeza que me vou levantar.
E como Fernando Pessoa escreveu:
Segue o teu destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O DIA EM QUE NASCI

Um dia fui assim...
A foto é do dia do meu baptizado, ainda não tinha um mês. É a foto mais antiga que possuo.

QUANDO EU NASCI

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.


Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.


As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…
P’ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe…
José Régio.



Quero agradecer a todos, que de diferentes modos, me acompanharam neste ano, o mais difícil que vivi até agora. Graças ao seu apoio, carinho, amizade... amor, hoje é um dia feliz.


E agora vamos lá a comemorar este dia.

Há bolo,

há música


http://www.youtube.com/watch?v=DMiBSt_ODN0 (tenho pena, mas não sei colocar aqui o vídeo)


e há champanhe

Obrigada pela vossa visita.

(DES)EQUILIBRIO


Ando nesta corda de circo bem esticada.

Dou dois, três passos e penso que já sei equilibrar-me nela... depois caio.

Subo até à corda e tento: volto a percorrer alguns centímetros. Caio novamente.

Volto a subir e a começar do início. O (triste) espectáculo repete-se...

Se calhar não fui feita para equilibrista, mas a vida colocou-me lá em cima, naquela corda e não tenho alternativa. Tenho de começar e recomeçar tantas vezes quantas as necessárias até que me consiga equilibrar e percorrer o caminho que vai de uma ponta da corda até à outra.

terça-feira, 10 de junho de 2008

MULHER SEM RAZÃO

Saia dessa vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou

Caia na realidade, fada
Olha bem na minha cara
E confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração
Ao cair da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio
Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dê um pouco de atenção
Parta, pegue num avião, reparta
Sonhar só não dá em nada
É uma festa na prisão
Nosso tempo é bom
E nós temos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar
(...)

(Letra extraída do álbum MARÉ de Adriana Calcanhotto, que tive o prazer de ver e ouvir aqui no meio do Atlântico)

AS REVIRAVOLTAS DO PENSAMENTO


Desconheço 0 que o futuro me reserva. Ainda bem!
Se conhecesse que interesse teria viver? Seria como estar a representar um guião, sem poder fugir ao que está escrito, sem precalços nem surpresas.
Tenho uma única certeza: estou viva e, por isso, morrerei um dia. É uma evidência e é redundante escrevê-la, mas escrevo-a, porque... porque sim. Nem tudo tem uma razão de ser. Ou terá?
Vivo e aceito, não tenho outra hipótese, que neste tempo, neste espaço tudo tem um fim. Existirão outros tempos, outros espaços? Não sei. Deixei de procurar o eterno ( ou será que apenas afastei esta procura do meu pensamento?) ... senti que era uma busca inglória e que me estava a impedir de apreciar a vida que me vai surgindo.
Este tempo e este espaço são os meus. Não duvido da sua existência. Não vou deixá-los fugir estarrecida pela sua perenidade ou encarcerada em labirintos de perguntas.
Deixaria de viver se mantivesse as pessoas afastadas com receio que um dia me magoassem; se fechasse a porta dos sentidos para evitar que enganassem a minha lógica; se não sonhasse só por saber que os meus sonhos poderão não se transformar em realidade; se fugisse ao desejo para evitar que o seu fogo me queime; se esquecesse o amor com medo da dor que sentirei quando terminar.

Tenho uma taça de ouro à minha frente. Quero beber o seu líquido, saboreando-o lentamente, até não sobrar uma única gota. Terá vinho feito das melhores castas? Ou no fim aperceber-me-ei do travo amargo do veneno? Que importam estas perguntas, depois de já me ter deliciado com o líquido de tão bela taça?

Quero nadar no mar que diariamente me rodeia, umas vezes calmo outras tempestuoso, sem receio de naufragar!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

ROSAS ... DE VIDA

Rosa
Receberei um ramo de rosas
Belas e simples como eu gosto
Desconheço a cor que as tinge
Desconheço o perfume que deixam
Em cada galho uma flor
Em cada galho muitos espinhos

Tomarei o ramo em meus braços
Sua cor alegrará os dias
Seu perfume inebriará meus sentidos
Com força abraçá-lo-ei
Manchará meu vestido
De pequenas manchas rosa...
De vida