quinta-feira, 31 de dezembro de 2009



"Eu sei que nem todos os dias são manhãs de sol. E que neste equilíbrio, ora enamorado ora soturno, com a Natureza, também dentro de nós a vida ou se enche de brios ou, como um bocejo que se prolonga, fica pachorrenta e até incomoda.
Sei também que pode parecer ingratidão dizê-lo assim... mas talvez o que nos empanturre seja o lixo dos sentimentos."
Parei aqui. Não precisei mais para saber que tinha de comprar o livro. Não tive oportunidade para ler mais, mas as frases que transcrevi era as que precisava de ler. Depois, uma frase de uma amiga de outros tempos ecoou dentro de mim: "Não és responsável pelas acções dos outros."

A Passagem de Ano não é uma festa que costume comemorar de um modo especial. A grande mudança entre o dia de hoje e o de amanhã é uma questão de mudança de algarismos. Um ano novo trás tantas possibilidades quantas as dos seus 365. Ena tantas!!! Continuo a preferir olhar um dia de cada vez. As reflexões, as mudanças, os projectos deixo-os para o período que medeia o final de um ano lectivo e o príncipio de outro. É nesta altura que fazem mais sentido, uma vez que sou professora.

A todos desejo que em 2010 saibam ver e aproveitar as oportunidades que surjam em cada dia!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

INDIGNAÇÃO



És pai?
És pai biológico com toda a certeza.
Foste pai durante uns anos. Foste pai no dia em que nasceram. Via-se no teu olhar. Foste pai quando lhes deste os primeiros banhos. Foste pai nos dias em que eras seu companheiro de brincadeiras. Foste pai...
És pai?
Deixaste de ser pai no dia em que eles deixaram de ser a tua prioridade. Relegaste-os para segundo plano na tua vida. Não foi só o deixares de lhes dar o beijo de "boas noites", foi a tua atenção e o teu tempo que não mais foram para eles. Mas não deixaram de ser teus filhos e sentem a tua ausência física e principalmente a falta do teu amor. Achas suficiente apareceres nos dias dos seus aniversários todo comovido para lhes dar um beijo e uma prenda. Serás pai só nesses dias? É que no dia seguinte negoceias a redução ao mínimo do tempo que passas com eles. Não sentes a necessidade que eles têm de ti? Da tua atenção? Do teu amor?
És pai?


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

CARTÃO DE NATAL


Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.
João Cabral de Melo Neto

sábado, 5 de dezembro de 2009

SONHOS


Serão palavras ou cores
o que misturas na tua paleta?
São sonhos que compões,
mar em que mergulho...
por instantes.

sábado, 28 de novembro de 2009

GRATIDÃO



O sentimento mais forte que existe é a gratidão, porque consegue eliminar o negativismo inerente a outros sentimentos, bem menos edificantes.

São tantas as coisas que tenho, as situações que vivi e as pessoas que me rodeiam, pelas quais todos os dias agradeço. Acima de tudo, sinto uma enorme gratidão pela natureza e pelas pessoas que me rodeiam, por aquelas que me têm acompanhado e que fizeram  com que nunca deixasse de acreditar nesta enorme força que me sustenta - o AMOR.
Obrigada a todos os que continuam a ler-me e a comentar apesar da minha presença tão irregular, que é aquela que consigo ter em virtude da minha disponibilidade de tempo.
Para todos deixo um malmequer do campo.

domingo, 15 de novembro de 2009

GOSTO MUITO DE TI



Quando a vi hoje pareceu-me mais pequena. Não que alguma vez a tenha considerado alta, mesmo em criança já me apercebia da sua estatura baixa.
No momento em que cheguei estava sentada numa cadeira, bem na pontinha, com o olhar em lado algum. Ao aperceber-se da minha presença levantou os olhos para mim. Os mesmos olhos azuis, os olhos mais meigos que já vi, mas hoje até os olhos estavam diferentes... no seu olhar estava bem patente a confusão que sentia. Abracei-a e beijei-a como de costume. Não me reconheceu... Falei-lhe dos dias em que, logo de manhãzinha, me penteava os cabelos com vagar e carinho, porque sabia o quão difícil era desembaraçá-los em seco, das roupinhas que me fazia para as bonecas, do dia em que me ensinou a tricotar com paciência infinita para com as minhas mãozinhas desajeitadas, descrevi-lhe as blusas que me tricotara, modelos difíceis que conseguia desvendar olhando, através de uma lupa, horas a fio para as fotografias das revistas alemãs, onde eu encontrava os pull-over da minha preferência, falei-lhe das minhas travessuras com os meus primos... sorria enquanto me ouvia. Por fim disse-me:
- Eu sei quem és, só não sei como te chamas.
A minha tia explicava-lhe quem eu era, a filha do seu filho mais velho, a Carla. As suas palavras de nada serviam. A minha avó não conseguia reconhecer ninguém.
Nas minhas mãos as suas mãos frias, brancas quase translúcidas. Olhou-me a sorrir:
- Sei que gosto de ti.

sábado, 31 de outubro de 2009

PÃO-POR-DEUS



Batem à porta!
Quando a abro vejo um grupo de três ou quatro crianças disfarçadas de bruxas, vampiros e outras figuras que não consigo identificar. Sorriem-me enquanto me apresentam os seus sacos à espera que lá coloque guloseimas, mas não ouço a frase que deveria acompanhar os seus gestos: "guloseimas ou travessuras". Mesmo assim respondo às suas expectativas.
O cenário repete-se ao longo da noite. 
O que é feito do nosso Pão-por-Deus?

sábado, 24 de outubro de 2009

OS "MEUS" MENINOS




O Paulo está pela primeira vez no 7º ano. Tem um sorriso tímido, levanta o dedo a pedir licença para falar, o que faz com frequência na minha aula, é que Matemática é a sua disciplina preferida. Quando acaba a leitura de um enunciado, inicia de imediato a resolução do exercíco e enquanto espera que os colegas terminem, entretém-se inventando novas perguntas. Com os olhos a brilhar por detrás dos óculos, põe o dedo no ar e pergunta: "Ó professora, e se no problema ainda pedisse..." Para ele a aula passa rápido. Gosta de aprender e gosta de fazer coisas que a maior parte dos seus colegas classificariam de chatas: ler e inventar construções em Lego. Um dia vai ser engenheiro...
O Henrique também frequenta o 7º ano pela primeira vez. Sentou-se no primeiro dia na fila da frente, "para ver melhor o quadro". Usa óculos de lentes grossas numas armações todas "fashion", e um brinco em cada orelha, quadrados preenchidos com brilhantes de vidro. Espeta o cabelo curto com gel e é moreno, daquela cor que só os meninos de rua conseguem ter. Preferia estar a trabalhar com o pai nas obras, a "amarrar ferro", do que frequentar a escola, mas o seu sonho era ser como o Cristiano Ronaldo. Quando lhe peço para ler uma questão em voz alta, lê muito devagar, junta as letras, depois as sílabas e por fim sai a palavra. Ao terminar a leitura, volta a ler tudo para si, a ver se entende a pergunta. Depois sai-lhe a resposta de rompante. Se está correcto, o que acontece raramente, diz todo satisfeito: "Sou esperto, não sou professora?"

Em cada novo ano lectivo sinto que, na minha escola, aumenta o número de meninos como o Henrique. A minha grande interrogação é como ensinar estes meninos que os pais enviam para a escola por obrigação e que permanecem lá contra a sua vontade. São alunos que chegam ao 7º ano de escolaridade sem terem, ao menos, desenvolvido competências básicas como as de leitura e de cálculo e que não revelam gosto em aprender. Não valorizam a cultura escolar e não compreendem a sua linguagem. Ensinar estes meninos é um grande desafio, penso que o maior que hoje se me apresenta, em termos profissionais.


Durante estas semanas em que estive ausente, senti saudades deste cantinho e dos vossos, mas o tempo para escrever e para vos visitar faltou-me.  Espero que agora seja o regresso a este espaço.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

INICIAL

O mar azul e branco e as luzidias
Pedras - O arfado espaço
Onde o que está lavado e relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida

Sophia de Mello Breyner

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

FÉRIAS

Desde o ano passado que me apetece imenso fazer férias fora dos Açores, sem que tal seja possível.
Neste último ano, houve muitos períodos de tempo em que me senti de mãos atadas, sem poder fazer nada, para resolver os problemas que tanto me afiligiram, restando-me apenas esperar e de preferência com paciência. Foi nestas alturas que me apeteceu deixar tudo para trás e viajar. Sempre soube que a minha queria amiga Sandra tinha razão ao afirmar que sair daqui não iria atenuar as minhas preocupações, porque as levaria comigo para onde quer que fosse. Em finais de Junho, quando já não esperava que tudo se solucionasse do modo que desejava, recebi um telefonema a informar-me que havia sido colocado um ponto final em toda a situação. Finalmente pude respirar de alívio! E achei que merecia as minhas tão desejadas férias, mas aquilo que pensamos, às vezes tem tão pouca importância. Por isso, aqui estou na minha ilha, a passar umas férias simultaneamente relaxantes e divertidas. Estão-me a saber muito bem, principalmente porque sinto uma paz que há muito não sentia. Sei que este Verão o lugar ideal para estar é onde estou.


Hoje estive aqui, na Praia de Água D'Alto:


Uma magnífica praia da costa sul da ilha de S. Miguel, onde mesmo num dia de sol de Agosto, podemos passar um dia calmo, acompanhados pelo som do mar e dos pássaros a chilrear na encosta.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SEMPRE O MAR


Sempre gostei da companhia do mar. Não importa se está azul ou cinzento, se me vem beijar silenciosamente os pés ou se me atira ruidosamente com os seus salpicos, se cheira a algas ou a iodo. Não importa... Sei que está sempre lá, como se estivesse especialmente à minha espera.

Quando acordo com um passarinho a cantar na janela e vejo o céu azul (às vezes sou a única a vê-lo assim), sei que que o meu mar está lá pronto a partilhar a minha alegria. Nestes dias, sou, junto a ele, livre como o golfinho que pula feliz nas suas ondas.

Nos dias em que as palavras esgrimem no meu cérebro, numa batalha ensurdecedora, só o mar é capaz de as calar. Não sei o porquê. Não sei se é de contemplar a sua infinitude e a sua dança constante, se é de ouvir a sua música ou sentir o seu cheiro. Caminho ao seu lado ou sento-me a olhá-lo e a ouvi-lo até que no meu cérebro as palavras sejam substituídas por silêncio. Nestes momentos nada mais existe: só eu e o mar. Depois, desaparece a urgência das decisões e a enormidade dos problemas. Se não os posso resolver de nada me vale pre-ocupar. Às vezes, simplesmente é preciso esperar, outras dar pequenos (ou grandes) passos na sua resolução. O mar não me dá respostas, dá-me calma, uma grande calma.

O meu templo é o mar.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

FÉRIAS À PORTA

Na passada sexta-feira, ao fim do dia, rumei até aqui:


Passeei preguiçosamente, ao sabor da vontade, como só é possível quando não existem horários a cumprir.



Saboreei o Sol e o mar.



Aqui nem um nem outro. O primeiro ficou escondido por umas nuvens e o segundo infestado por "caravelas".



Encantei-me com esta baía de águas quentes e límpidas. Fiquei fascinada pela sua beleza e pela calma que lá encontrei. Tenho a certeza que lá voltarei com mais tempo.
(Fotos tiradas pelo meu filho mais velho.)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"O AMOR É"

"Isto já não é a paixão cega, mas é algo suficientemente forte que me impede de apaixonar por outra pessoa. E ter essa certeza é magnífico..."

Frase proferida por Júlio Machado Vaz no progama "O amor é", com o tema
"O amor sobrevive ao tempo e à distância?"

É possível ter esta certeza? Durante quanto tempo?
A paixão é algo incontrolável ou podemos impedir que ela aconteça?

terça-feira, 7 de julho de 2009

"O LEITOR"





Infelizmente não consegui ver o filme (esteve em exibição em Ponta Delgada apenas durante uma semana que por azar mau coincidiu com uma altura de muito trabalho), mas adorei ler o livro. A sua leitura foi também um regresso ao meu passado, à minha adolescência, aos dias em que me embrenhava na leitura de romances sobre a II Guerra Mundial. Tudo começou com a leitura do Diário de Anne Frank que me impressionou deveras, depois seguiram-se livros como Mila 18, Última Batalha, Exodus, Segunda Vitória, entre muitos outros. Durante algum tempo este tipo de leitura foi o meu preferido, e sem algum tipo de critério lia todos os livros que encontrava. Indignava-me com a segregação do judeus, com o seu isolamento em guetos e com as condições terríveis em que viviam, com os horrores vividos nos campos de concentração, tornava-me defensora do seu êxodo para a Palestina... Acima de tudo assustava-me a crueldade do homem e a total falta de respeito pela dignidade que um homem pode ter para com um ser seu semelhante.
Este é um livro diferente, desde logo porque a acção desenrola-se no pós-guerra (bem posterior ao pós-guerra imediato de Segunda Batalha) e mais do que um livro sobre a Guerra é um livro sobre como lidar com a culpa que ficou na geração dos que, no mínimo, consentiram, através do seu silêncio, com os horrores cometidos. Depois, porque é uma refelexão sobre as consequências das nossas acções, ou da sua ausência, quer no desenrolar da nossa vida, quer na dos que nos rodeiam. Levanta uma grande interrrogação: Como lidar com estas consequências e com a culpa que nos faz sentir?

Deixo aqui três trechos que me tocaram de um modo particular.

"Porquê? Por que razão, quando olhamos para trás, o que era bonito se torna quebradiço, revelando verdades amargas? Por que razão se tornam amargas de fel as recordações dos anos felizes de casamento, quando se descobre que o outro tinha um amante durante todo aquele tempo? Por que não era possível ter sido feliz numa situação assim? Contudo, fomos felizes! Por vezes, quando o final é doloroso, a recordação trai a felicidade. Por que é que a felicidade só é verdadeira quando o é para sempre? Por que é que só pode ter um final doloroso quando já era doloroso, ainda que não tivéssemos consciência disso, ainda que o ignorrássemos? Mas uma dor inconsciente e ignorada é uma dor?"


"Revisão! Rever o passado! Nós, os estudantes do seminário, víamo-nos como os pioneiros da revisão do passado. Queríamos abrir as janelas, deixar entrar o ar, o vento que finalmente faria redemoinhar o pó que a sociedade deixara acumular sobre os horrores do passado. Iríamos zelar para que se pudesse respirar e ver. Também nós não confiávamos a sabedoria dos juristas. Parecia-nos evidente que deria haver condenações. E também achávamos claro que só aparentemente se tratava de um julgamento de um qualquer guarda ou esbirro de um campo de concentração. Quem estaria a ser julgada naquele tribunal era a geração que se serviu dos guardas e dos esbirros, ou que não os impediu, ou que pelo menos não os marginalizou omo deveria ter feito depois de 1945. E o nosso processo de revisão e esclarecimento pretendia ser a condenação dessa geração à vergonha eterna."


" As camadas da nossa vida repousam tão perto umas das outras que no presente adivinhamos sempre o passado, que não está posto de parte e acabado, mas presente e vivido. Compreendo isto. Mas por vezes é quase suportável. Talvez tenha escrito a história para me livrar dela, mesmo que não o consiga."

em "O Leitor" de Bernard Schlink

domingo, 5 de julho de 2009

ESTA NOITE

Esta noite,
o vento não me trouxe o murmúrio das folhas,
nem o pio do cagarro.
Esta noite
o vento trouxe-me notícias do meu amor.
Sussurou-me palavras ao ouvido.
Vinham de longe, tão longe...
O meu amor tem uma dor
Acho que é no peito.
Estendo a mão, mas...
o meu amor está longe, tão longe...

domingo, 28 de junho de 2009

EM JEITO DE BALANÇO


Balanços?Nesta altura do ano? Pois, para mim agora é que fazem sentido. A minha vida é organizada em anos lectivos e de tal forma o sinto que, quando me refiro ao "ano passado", invariavelmente estou a referir-me a "ano lectivo passado. De Setembro a Junho, os meus dias são organizados em função de um determinado horário de trabalho, em que lido com grupos de pessoas, muitas delas diferentes das do ano anterior, em que me proponho e em que me são propostos objectivos diferentes. Além disso, é também por estes dias, em que todos os anos completo mais um ano inteiro de vida. Por isso, para além de um balanço profissional, é nesta altura que dou por mim a fazer contas à vida. Pela primeira vez em quatro anos o saldo é positivo, não simplesmente positivo, mas francamente positivo.

Durante três anos senti-me a descer num escorrega em espiral. Não via o seu fim, mas conseguia adivinhar... era lá em baixo, onde acabavam todos os meus sonhos. Não havia hipótese de sair daquela espiral descendente e o meu medo de chegar ao fim, apenas retardava a descida, tornando-a ainda mais agonizante. Foi uma longa descida que terminou num daqueles dias de nevoeiro denso, em que o céu se cola à terra e em que o ar está tão carregado de água, que se torna impróprio para ser respirado por seres vivos sem guelras. Era impossível ver o que quer que fosse, nem mesmo me conseguia ver a mim própria, era como se simplesmente me tivesse liquefeito durante a descida... Não sei quantas horas teve aquele dia, sei que foram demasiadas, porque nestes lugares qualquer tempo que se passe é sempre excessivamente longo.


Junto ao mar, numa manhã cinzenta, em que as ondas tombavam violentamente na areia e em que as gaivotas eram prenúncio de tempestade, no instante em que ao salgado do mar se juntaram as minhas lágrimas, tornei-me uma com o que me rodeava. Foi nesse momento que voltei a sentir -me viva.

Há um ano, por esta altura, já havia iniciado o percurso de subida. Houve momentos em que sentia não conseguir andar, outros em que me sentia a escorregar e o medo de voltar a cair a espreitar de imediato. Centímetro a centímetro fui subindo, atingindo patamares mais altos. Foi um ano de conquistas, vejo-as como grandes conquistas. Sinto-me cansada, mas satisfeita por ter conseguido alcançar os objectivos que me propusera. Não o fiz sózinha. Fi-lo com uma força, a única em que nunca deixei de acreditar: a força do amor, aquela que sempre senti através da minha família e dos bons amigos que tenho. Se é verdade que a vida por vezes nos prega algumas rasteiras, não menos verdade é que também nos traz agradáveis supresas. Trouxe-me um anjo-da-guarda, que surgiu no meu caminho, de um modo totalmente inesperado (principalmente porque não acreditava neles) que me deu a mão, me fez sorrir e aprender a saborear pequenos instantes de cor.

Agora, sei que esta grande tempestade já passou. Não sei que caminho seguir, mas sei que se me sentar junto ao mar ele mo segredará, porque é nele que mora o meu coração.

sábado, 20 de junho de 2009

O QUE OS ADULTOS NÃO SABEM!!!


- Mãe, levo o boné?- pergunta o Miguel antes de sair de casa.

- Não, hoje não há sol.- respondo.

- Há sim!- contrapõe o Francisco.

- O céu está cheio de nuvens. Não se vê o sol.-retorqui.

- Não vês o sol, mas ele está lá. Está por detrás das nuvens.-explica o Francisco com firmeza, na sua vozinha de menino de 4 anos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

À PROCURA DE OUTRAS REALIDADES

"Para dar relevo aos meus sonhos preciso conhecer como é que as paisagens reais e as personagens da vida nos aparecem relevadas. Porque a visão do sonhador não é como a visão do que do que vê as cousas. No sonho, não há o assentar da vista sobre o importante e o inimportante de um objecto que há na realidade. Só o importante é que o sonhador vê.(...) Um poente real é imponderável e transitório. Um poente de sonho é fixo e eterno. Quem sabe escrever é o que sabe ver os sonhos nitidamente (e é assim) ou ver em sonho a vida, ver a vida imaterialmente, tirando-lhe fotografias com a máquina do devaneio, sobre a qual os raios do pesado, do útil e do circunscrito não têm acção, dando negro na chapa espiritual."
Bernardo Soares - Livro do Desassossego

Perdi a máquina do devaneio. O concreto e o útil são as tábuas a que me seguro neste momento da viagem. São a realidade em que confio. Às vezes procuro a menina que fui.



(O vídeo é muito longo, mas foi o único que encontrei com as primeiras cenas do filme, onde alguém escreve " Quando a criança era criança...)

terça-feira, 26 de maio de 2009

CASTELO DE CRISTAL

"Quando subo pela haste da manhã, encontro uma cidade de cristal. Trouxeste-ma tu (...)
E se conseguisse tocar-te com a respiração, ouvia-te dizer:
- É na desolação dos dias que o meu olhar segrega o mel com que te alimentas."
Al Berto - Dispersos


Há um momento em que nos apercebemos que é tarde. Tarde demais para evitar que o mundo que habitamos se parta em mil contas descoloridas. É no instante em que se descobre que as coisas em que acreditávamos eram efémeras e breves.
Chegaste naqueles dias em que era consumida pela aridez de um deserto do qual não avistava o fim. Nada fazia prever a tua fantástica vinda.
Chegaste. Seguraste-me a mão e seguiste ao meu lado. Derramavas cores naquele deserto que me invadira. Ou seriam palavras? Falavas de coisas estranhas. Sonho. Desejo. Paixão...
No espaço onde as nossas palavras se encontram, onde mergulho no teu olhar surge um castelo de cristal onde tudo faz sentido.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

VIVER DE IMPROVISO

Durante muito tempo, demasiado, vivi como se estivesse a seguir um guião que estudara ao pormenor. Conhecia o início da história e como se desenrolaria até ao final feliz! Naqueles dias não me apercebia que me encontrava espartilhada por um argumento. Estava demasiado ocupada em desempenhar o meu "papel". Foram dias recheados de certezas e de sonhos feitos realidade. Claro que havia rotinas e problemas, enredos e contratempos... mas todas as histórias, mesmo as de final feliz são assim. Até ao dia em que fiquei sem saber qual a minha fala e não havia ninguém que ma segredasse... A vida já não seguia a história que lhe haviam escrito. Senti o chão a escapar-me vertiginosamente e as imagens a rodopiarem à minha volta numa sucessão desconexa. Sem compreender o que se passava senti-me desfalecer. Cambaleei insegura e sem as frases certas apenas emitia uma sequência desordenada de palavras... Mesmo sem guião sabia que tinha de continuar, porque do palco da vida não se pode fugir. Após tanto tempo a viver uma vida programada era-me difícil voltar a improvisar. Mas tive de o fazer, de início contrafeita e indignada com a mudança ocorrida, mas depois aprendi a apreciar a espontaneidade das frases e das surpresas que elas proporcionam. Hoje, permito-me palmilhar caminhos que não sonhara e saboreio as descobertas que vou fazendo. Olho sem ansiedade para as folhas brancas que seguro nas mãos.

sábado, 9 de maio de 2009

BLEU





"Azul" é um dos filmes da trilogia "Três cores" do realizador Krzysztof Kieslowski, inspirado nas cores da bandeira de França e nos princípios da Revolução Francesa: liberdade (Azul), igualdade (Branco) e fraternidade (Vermelho). Vi-o na televisão há já alguns anos e gostei. Revi-o há algumas semanas com um olhar diferente...

Julie (Juliette Binoche) perde o marido e a filha de três anos num acidente de viação. Inicia uma vida nova longe de tudo e de todos os que até aí faziam parte da sua vida. Do passado apenas traz um candeeiro azul que retira do quarto da sua filha. Mas o passado intromete-se no presente e provoca mais uma perda: a da imagem que tinha do "antes". Com coragem enfrenta os "fantasmas" do passado e pacifica-se com eles. Sempre presente está a força do amor, visível na bondade de Julie e na presença do antigo assistente do marido, cujo comportamento provoca uma mudança decisiva na atitude de Julie. Graças ao amor, Julie aceita o passado, ultrapassa a dor e a solidão e desperta de novo para a vida.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

ESTILHAÇOS


Começa por ser uma manhã que tarda
A espera de que se foge
Gota que cai leve no rosto
Só depois o céu fica cinzento
E desaba em estilhaços
No chão

sexta-feira, 24 de abril de 2009

CONSTRUTOR

Comemorou o seu 71º aniversário no mês passado. O seu nome não é relevante, não aparece em revistas ou jornais. Não publicou livros, não é actor nem músico, não realizou nenhuma obra que o celebrizasse... daqui a algumas gerações o seu nome terá sido esquecido. O seu nome não ficará escrito nos livros de história, mas ficará indelevelmente guardado no meu coração. Conheci-o recentemente e aproximei-me dele acerca de dois anos. Não sei muito do seu passado, apenas o que ele conta quando vem a propósito. Nasceu numa família humilde, foi para o seminário cedo, durante a guerra colonial foi capelão militar algures em África. Terminada a guerra voltou à sua terra natal, mas o bispo colocou-o numa terra distante da dos seus pais, gravemente doentes e a precisar do seu auxílio. Talvez tenha sido esta a gota de àgua que o fez deixar o sacerdócio, os verdadeiros motivos desconheço. Tirou o curso de psicologia. Casou-se e teve uma filha que nasceu com uma deficiência profunda. Durante 17 anos, ele e a esposa, deram de comer à menina, puseram-lhe e tiraram-lhe as fraldas, lavaram-na, vestiram-na e pentearam-na, levaram-na a passear, cantaram-lhe e contaram-lhe histórias, beijaram-na e abraçaram-na...era a sua menina. A sua filha faleceu e mais tarde vítima de doença, que sei ter sido prolongada, também faleceu a mãe. O tempo passou, não sei quantos anos ao certo, voltou a encontrar o amor e casou-se à cerca de doze anos. É uma pessoa que admiro, nunca o ouvi lamentar-se da sua vida ou das dificuldades por que passou, tão pouco proferir alguma palavra amarga sobre o seu passado. Está sempre disponível para quem o procura, ouve como ninguém e acima de tudo não julga as pessoas. Tem um coração grande, sempre pronto a ajudar quem ele sabe que precisa. Adora a sua "quinta" que mantém impecável com a ajuda de um jardineiro e no final do ano passado encontrou um novo "hobbie", aprendeu a pintar estatuetas que pelo Natal ofereceu à família e amigos: anjos, Meninos Jesus e Sagradas Famílias ... Guardo o anjo que me ofereceu no meu quarto, bem perto de mim. À esposa ofereceu recentemente um humorístico casal de namorados. Nunca o ouvi lamuriar-se dos seus 71 anos e tem sempre um novo projecto a ser posto em prática. Tenho a certeza que muitas vezes duvidou do seu Deus, no qual continua a acreditar, que chorou com as dificuldades que lhe surgiram, talvez tenha perdido momentaneamente a esperança, se calhar nem sempre foi feliz...hoje basta olhar para os seus olhos para saber que é. Vejo-o como um construtor...um construtor da sua vida.

sábado, 11 de abril de 2009

PRÉMIOS

Até há ano e meio não fazia idéia do que era um blogue. Algures em Outubro/ Novembro de 2007 estive uma semana em casa doente. Um dia na Antena 1 "apanhei" o programa "Estes difíceis amores" do prof. Júlio Machado Vaz, de que muito gostei. Sem muito com que me pudesse entreter e precisando de descançar o cérebro da "montanha russa" em que os últimos acontecimentos (in)esperados tinham lançado a minha vida, lembrei-me de uma frase que ouvira : "Tudo o que é gente importante tem um blogue". Pesquisei no google e descobri o blogue que procurava : o Murcon (blogue do referido professor), do qual passei a ser leitora assídua. Nesta altura criei o meu blogue única e exclusivamente para poder lá comentar. Fui descobrindo novos espaços e este "mundo" novo exerceu sobre mim um enorme fascínio, no entanto, não me passava pela cabeça ter um espaço meu onde pudesse escrever. Foi no final de Dezembro de 2007 que criei este espaço com o intuito de desabafar a angústia que me atingia o coração, é que naquela altura a "montanha russa" estava completamente desgovernada e o "despiste" era a única hipótese que se adivinhava, não obstante o esforço que fazia para manter-me "em linha" por mais tempo, tentando dar a volta à situação. Os primeiros posts que publico são unicamente trancrições de textos onde encontrava alguma força para manter um equilíbrio precário.
Quando começo a escrever no meu blogue começam a surgir os primeiros comentários dos blogues que na altura "visitava". Cedo apareceram os primeiros prémios, que, embora agradecida, não consegui aceitar por não achar merecê-los. Tenho uma "vizinha" que, ao longo deste ano, me foi brindando com alguns prémios e embora eu apenas agradecesse não dessitiu de o fazer. A sua persistência e os últimos prémios que me atribuiu fizeram-me repensar a minha posição em relação aos prémios: como poderia não aceitar estes gestos de carinho?
Esta pessoa maravilhosa é a Blue Velvet a quem agradeço o carinho.
Assim aqui vão os últimos prémios que esta "vizinha" me atribuiu:







Estes quatro prémios vão para:

Fa

Maria

Sani

Vento

Violeta

terça-feira, 7 de abril de 2009

INSTANTÂNEOS



Uma criança a correr atrás das ondas, adolescentes a jogar volei numa roda,um casal de namorados a comer gelado no carro junto à praia, uma mãe que brinca com o filho correndo atrás da bola azul... A minha retina capta estes instantâneos: fotos em movimento de um tempo que já passou.

Saudades? Sim, mas daquelas que já não fazem doer. São recordações que me fazem sentir grata pelos momentos bons que já vivi e aconchegam o meu coração. Dão-me também a certeza que as páginas em branco do meu álbum serão preenchidas com muitas outras fotos. Algumas destas foram capturadas recentemente, não estão coleccionadas por ainda as segurar nas mãos estupefacta com a sua beleza...

Ao longe surgem os primeiros acordes de "As praias desertas" de Tom Jobim, sigo a música trauteando baixinho:


As praias desertas continuam

Esperando por nós dois

A esse encontro eu não devo faltar

O mar que brinca na areia

Está sempre a chamar

Agora eu sei que não posso faltar

O vento que venta lá fora

O mato onde não vai ninguém

Tudo me diz: não podes mais fingir

Porque tudo na vida há de ser sempre assim

Se eu gosto de você

E você gosta de mim

As praias desertas continuam

Esperando por nós dois



Contradição? Talvez, pois se há coisa que aprendi é que na vida nem tudo é racional e congruente. Ou talvez seja apenas o desejo de que um dia nos encontremos numa destas praias que nos esperam pacientemente.

segunda-feira, 23 de março de 2009

PROCURA-SE TEMPO



"Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem. "

Pitágoras

Deparei-me com esta frase, no fim-de-semana passado, ao fazer uma pesquisa sobre a Escola Pitagórica e não podia ser mais adequada à fase por que passo: falta-me tempo e com certeza alguma ordem.

sábado, 7 de março de 2009

O SENTIDO DAS PALAVRAS

Os livros que pretendo ler fazem pilha na minha mesinha-de-cabeceira. Sem tempo para os ler, limito-me a folheá-los. É que isto do tempo é uma coisa muito complicada e o meu ultimamente não é suficiente para o que preciso e muito menos para o que gosto de fazer... O último livro que lá coloquei é a auto-biografia "A dança da Realidade" de Alejandro Jodorowsky. Confesso que ainda não passei das primeiras páginas, mas estou encantada com o universo mágico da sua infância e com o modo como descreve a sua descoberta das consequências imprevisíveis das suas acções, boas ou más. Quem mo emprestou leu-me um excerto em que o autor defende que pensamos distorcidamente devido a nos terem ensinado uma linguagem embrenhada de "ideias loucas". Assim sendo, apresenta um novo sentido para alguns conceitos, por exemplo:
Nunca: muito poucas vezes
Sempre: com frequência
Infinito: extensão desconhecida
Eternidade: fim impensável
Fracassar: mudar de actividade
Desiludiu-me: fiz uma imagem errada dele
Eu sei: eu acho
Belo, feio: gosto, não gosto
És assim: é assim que te sinto
O meu: o que agora possuo
Morrer: mudar de forma
Felicidade: estar todos os dias menos angustiado
Generosidade: ser menos egoísta
Força: ser menos fraco

Se é verdade que me identifiquei de imediato com as primeiras "definições" que Jodorowsky apresenta devido à relativização de conceitos que tomamos como absolutos, já o mesmo não aconteceu com as últimas três. Inicialmente, pensei que transmitiam um modo medíocre de estar na vida, um contertar-se com pouco, mas depois encontrei implícita nelas a importância de uma transformação pessoal, gradual e em sentido positivo.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

SILÊNCIO!


Por onde andei, hoje?



Lagoa do Areeiro




Trilho de acesso à Lagoa do Congro





Lagoa do Congro

Lagoa dos Nenúfares



"Silêncio! Não se fala agora. Chiu...Vamos ouvir a natureza." Com estas palavras, à beira da Lagoa das Sete Cidades, o meu tio "Látinho" (era assim que os muitos sobrinhos o tratavam) conseguia acalmar a pequenada. Sim, porque onde ele estava, estavam todos os miúdos da família. Todos obedecíamos. Fazíamos silêncio absoluto: não se ouvia vivalma....

Lembro-o com saudades... penso que o meu gosto por passeios no meio de nenhures foi herdado dele. Em cada passeio, nesta ilha tão pequena, descubro novas belezas. E sinto-me uma felizarda por poder comungar desta natureza quase virgem, num estado muito próximo do selvagem, onde não se vê rastos da acção humana. Fecho os olhos, encho os pulmões de ar fresco e perfumado, expiro e abro os olhos com renovado espanto. Deixo a paz desta natureza invadir-me... renasço novamente.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DA MANEIRA MAIS SIMPLES

Tor Lundvall



É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo
apenas o começo. Antes
do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.
Eugénio de Andrade
Na minha folha, aquela onde ficaram alguns rabiscos (uns que não consegui outros que não quis apagar) ficou o sonho de ultrapassar o inverno sempre que ele chegue, num percurso sem fim.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

QUAL É O ROSTO DA FELICIDADE?

Lembro-me de na minha adolescência sempre ter havido livros do Quino lá em casa. Evidentemente que inicialmente os que fizeram as minhas delícias foram os da Mafalda.
Num destes dias estava numa livraria quando me deparei com uma colecção da minha querida Mafalda. De imediato peguei num livro à sorte e a primeira faixa que vi foi esta.
Apesar de já a conhecer naquele momento surtiu em mim um grande impacto.
Como reconhecer a Felicidade? Qual o seu rosto?
Tantas vezes a sonhamos, a imaginamos que acabamos por a delinear com traços bem definidos.
Às vezes surge-nos à porta aquela imagem que toda a vida desejamos e esperamos. Abrimos-lhe a porta e abraçamo-la... por instantes que podem ser anos. Por vezes, mais tarde, vimos a descobrir que tínhamos aberto a porta, mas não à Felicidade.
Noutros casos, batem-nos à porta - rosto estranho, desconhecido, desagradável até. Fechamos a porta de imediato, não se vá dar o caso desta criatura se atrever a entrar. Porta fechada, sentimo-nos em segurança novamente e nem sequer voltamos a olhar para trás.

Nem sempre aquilo que desejamos e que tanto queremos é o que nos trás a felicidade. Por isso, nesse momento tenho uma simples folha de papel, com alguns rabiscos, que apenas não está em branco, porque não consegui apagar por completo a imagem da minha Felicidade. Nunca imaginei que uma página quase branca pudesse conter tanta beleza!

sábado, 3 de janeiro de 2009

ESPELHO INTEIRO

Sentada na cadeira de dentista, após observação cuidada da minha distorcida boca, apercebi-me aterrada que a sugestão da Olá é que seria aceite : "Bisturi, por favor.", diz a médica para a assistente e explica-me: " Vamos ter de drenar o quisto." A grande vantagem é que a anestesia não foi o meio copo de sidra, mas sim ministrada por três dolorosas picadelas.
E aqui estou eu com a metade esquerda do rosto inchado até ao olho, lembrando uma vítima de violência doméstica. Tratada com uma quantidade de antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios e com o remédio mais antigo de todos: bochechos de água e sal para ajudar a drenar o quisto e o carinho sempre presente da minha mãe ( não quero ser injusta para todos os outros que me têm apaparicado, mas nestes momentos não há nada como a nossa mãe) . Triste por não não me ter sentido com forças para estar com os meus pequeninos que felizmente regressam logo à noite.
Entretanto hoje aproveito o tempo para vos visitar e retribuir visitas, que por motivos de tempo, não tinha tido oportunidade de fazer. Sim, porque hoje sinto-me bem melhor e disto é testemunha o espelho que não se partiu logo de manhã quando devagarinho fui espreitar o rosto que lá estava.

Obrigada pelo vosso carinho.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

DOR DE DENTES....OU MELHOR DOR DE PRÓTESE


Há uns anos atrás, para aí há 6 anos, coloquei uma prótese dentária, com um dentinho apenas, fixa. Não sei se sabem do que estou a falar: uma coroa com uma espécie de parafuso que fica colocada na gengiva, no lugar do dente original. Primeiro esteve provisória, para averiguar se não havia problemas de alergias e há 4 anos, atentem bem há 4 anos, passou ao estatuto de definitiva. Estava feliz com ela, não se distinguia dos outros dentinhos, mastigava como deve ser e não me provocava qualquer desconconforto. Até que há três semanas, sem mais nem menos, decidiu cair. Fui à minha dentista que me disse esse ser um caso raro e que após as devidas desinfecções voltou a colocá-la no lugar: 1º molar superior esquerdo (não sei se é bem assim que ela designaria a sua localização). O problema é que ontem a gengiva começou a doer, só uma moinhazinha, nada de grave. Deveria ter feito o que a minha querida amiga Sani me teria sugerido perto da meia-noite: "Vai às urgências!" Mas este é um local de que não gosto especialmente e de certeza não era a minha escolha para a passagem de ano. Assim, fiquei toda a noite bem sossegadinha na cama, sem me poder virar, com dores e sem analgésicos que fizessem qualquer efeito. Pela manhã li que a Maria me recomendava, nada mais nada menos, uma ida a Cuba, onde todos nós sabemos que a medicina se encontra bastante desenvolvida. A Olá apareceu de faca em riste e discutiu com a Coragem, mulher de não ficar parada perante as dificuldades, qual dos métodos tradicionais seria o mais eficaz para por fim ao meu sofrimento: retirá-la utilizando o famoso utensílio da Olá ou amarrar uma ponta de um barbante à prótese e a outra a uma porta. Para ambas as sugestões faltava a anestesia! Para tal prontificou-se o Profeta com o meio copo de cidra que lhe sobrava. As duas declararam a quantia insuficiente... O meu amigo Nocturno interveio afirmando que se tivesse aceitado a sua proposta de ir ao Alaska nada disto me teria acontecido, uma vez que as temperaturas por aquelas bandas não são nada propícias ao desenvolvimento de infecções. A minha querida Violeta, sempre atenta aos meus problemas, veio desejar-me que encontrasse a chave para o problema o mais breve possível. A Carla Sofia também me animou desejando que neste "primeiro dia do ano ...dê o primeiro passo na conquista de um sonho meu". Do F.M. chegou-me uma prenda de Natal atrasada (tal como o livro, estás desculpado com a história da insularidade) uma caixa com uns pós de "perlimpimpim" e a f@ disponibilizou-se imediatamente, lá do infinito das suas nuvens, a salpicar-me com estes pózinhos mágicos. A minha querida Blue Velvet disse-me para aguardar com esperança as previsões que o Carlos irá publicar nas suas Crónicas e aconselhou-me a Recomeçar... Presente nesta minha humilde casa desde o início e acabado de chegar de Madrid, o Professor Manuel Damas, apesar de afirmar esta não ser a sua especialidade, em apenas um minuto enviou-me uma receita electrónica e sugeriu-me cuidados com a higiene oral.