sábado, 21 de junho de 2008

DOR

Na semana passada, ao jantar o M disse-me:
- Mãe, os meus amigos, na escola, disseram-me que quando não se vai à catequese, não se faz a primeira comunhão nem o crisma, não se pode casar. É verdade?
- Não, M. Não se pode casar pela Igreja, mas pode-se casar ao civil como o tio X fez. Gostavas de ir para a caqueses?
- Não. E tu e o pai, como foi?
- Casamo-nos pela Igreja. Na altura éramos católicos. Olha a Y, amiga da mãe, só de baptizou aos 18 anos. Quando quiseres, se quiseres, podes fazer a comunhão, crismar-te e tudo o mais.
- Então tu e o pai podem casar-se.
- Sim.

Na última quarta-feira, novamente ao jantar.

- Amanhã o pai vem buscar-me, para me levar à escola?
- A mãe esta semana pode levar-te, mas tu quiseste que o pai viesse, não foi?
- Então amanhã vai ser como antes de tu te teres separado do pai?
- Não foi a mãe que se separou do pai. A mãe e o pai deixaram de gostar o suficiente um do outro para continuarem casados (frase combinada pelos adultos e repetida vezes sem conta), separamo-nos um do outro.
- A mãe e o pai podem voltar a casar-se?
- O que queres dizer com isso?
- Podem voltar a casar-se novamente, um com o outro.
- Não é provável, porque como os pais já explicaram, já não gostamos um do outro do modo que as pessoas casadas gostam.
- Mas podem voltar a casar-se?

E foi aqui que me faltou a coragem. Como poderia explicar-lhe que é impossível os pais dele voltarem a viver juntos? Não consegui acabar com esta sua ilusão. O meu "não é provável" poderia ter sido substituído por um redundante "não". A lei permite que nos voltemos a casar, é possível legalmente... a impossibilidade reside nos nossos corações.
É esta a dor que me magoa bem lá no fundo: a de não ter podido, nem poder, dar aos meus filhos a família que gostaria que tivessem, aquela família que todas as crianças desejam, com o pai e a mãe juntos.
Não é uma questão de culpa, não se trata de não saber que é melhor para as crianças que os pais estejam felizes e separados, do que juntos e infelizes. Sei que hoje, felizmente, já não vão ser olhados de lado por os pais estarem divorciados, sei que o importante é sentirem-se amados por ambos os pais, sei que o tempo atenua a dor. Sei muitas outras coisas que li, que aprendi com a experiência de outras pessoas, com especialistas e por aí fora. O problema está racionalizado!


Dói-me a impotência perante o sofrimento dos meus filhos...

4 comentários:

Coragem disse...

É muito complicado, eu não sei o que é estar separada dos Pai dos meus filhos.

Mas acontece às vezes perante uma zanga a enorme aflição principalmente da mais nova, nota-se que só de imaginar acontecer connosco como a muitos outros Pais.
O desespero da criança.

Mas eles vão crescendo e compreendendo cada vez melhor,
no teu caso, que consigas sempre ter essa compreensão para lhes explicar tudo da melhor forma.

Beijinho

Patti disse...

Tens de tentar ver que a dor deles seria muito pior se vos visse, aso pais, infelizes e continuamente a discutir.
Há opções que são tomadas e que nem sempre são fáceis, mas são concerteza as melhores que se puderam fazer e isso deve ser explicado.

BlueVelvet disse...

É triste o desfazer das ilusões, como é triste magoar os filhos.
Mas, não só é pior viverem com mau ambiente como depois compreendem.
O que importa é que os dois nunca lhes faltem como Pai e como Mãe.
E tu, de certeza não faltarás.
beijinhos e veludinhos azuis

Canephora disse...

São esses quês que não sabemos explicar de forma a podermos deixá-los satisfeitos com as respostas. mas a realidade é que se os pais estavam casados e são os pais, pq não casarem outra vez...
mas ele superam, muitas vezes melhor e mais rápido que nós.